quinta-feira, 31 de maio de 2007

CALOR

Oo homem disse

a propósito de Mercado

ser a situação actual

bastante introgessiva

nem o homem sabe

seguramente o que dizia

nem eu sei

nem nunca saberei

o que é

introgressivo

a palavra contudo

me parece clara

e me agrada

e a sinto perfeitamente adaptada

ao tempo que faz hoje:

mais de quarenta graus de temperatura

o sol a reluzir no céu

como no guiador cromado

da nossa

primeira bicicleta

os pássaros calaram-se nos galhos

sombreados dos freixos e dos choupos

nas oliveiras cinzentas

nem as cigarras cantam

como se o calor

lhes tivesse impiedosamente

derretido as asas

procuro nos poetas gregos:

Arquílogo de Paros

Ìbico de Régio

em Safos natural de Lesbos

a palavra exacta

que defina

este insuportável

desarranjo meteorológico

posso associá-lo

vagamente a Vulcano

ou à fusão do átomo

ao efeito de estufa

nada porém que me diga tanto

como o insuspeitado introgressivo

do homem

a propósito de

Mercado

sendo que

não poder sair à Rua

é um estado

indiscutívelmente introgressivo

não me resta outra saida

que não seja:

despir a alma

e pendurá-la num cabide

onde corra

um mínimo de aragem

e deixá-la assim a abanar

inflada como vela de pequeno barco

T-shirt de Ulisses

que o conduzisse

de regresso

a Ítaca

é penosa

a estação e tudo

esmorece com o calor

disse Alceu de Mitilene

há pelo menos

dois mil

e setecentos anos

isto

pelo facto simples

de não ter sido ainda

a propósito de Mercado

criado o inefável

vocábulo

INTRO

GRESSIVO

terça-feira, 29 de maio de 2007

VELHO TONTO EM PAÍS DE CEGOS

Entre os meus quinze e dezoito anos viajava com alguma regularidade à boleia. Pelo menos uma
vez por ano a Coimbra e Santarém – que era onde havia Escolas congéneres à minha, a de Regentes
Agrícolas de Évora, que anualmente promoviam festas, com grandes bailações e comezainas que eu
entendia por bem usufruir. Vão lá já cerca de 50 anos!
Volto agora à boleia, à Estrada, ao estender o polegar da mão direita, com o resto da mão fechada,
um sinal interdito, policialmente interdito, punível, em tempos, com coima de não sei quantos
escudos. Era o tempo das licenças de isqueiro, para protecção da indústria nacional de fósforos, do
pagamento de uma taxa de 5 tostões para fazer necessidades (líquidas) nas instalações sanitárias da
Mata – fronteira ao PalácioD. Manuel.
Bom, volto à boleia, logo pela fresquinha, para cumprir as minhas trinta lições de código ( só espero
que sejam suficientes), mais outras trinta ( o raio do número faz-me lembrar os dinheiros de Judas)
de condução em estrada e espaço urbano – para ficar habilitado, com sucesso duvidoso, a fazer o
que já faço, sem acidentes de percurso, há precisamente os tais 50 anos.
Velho, de cabelos brancos, normalmente desalinhados pelo vento, mala de cabedal às costas,
sobraçando, como puto imberbe a frequentar o “ciclo”, não a perversa e tonta mochila a abarrotar de
livros, o módico (230 páginas apenas) exemplar do Código da Estrada. Da autoria do senhor
AntónioAlves Costa, que prima, escreva-se em abono da verdade, pela excelente qualidade literária.
O voltar – por imposição legal, que julgo no mínimo ignóbil – ao contacto com as leis ( abomino o
étimo como o cheiro intenso e gorduroso a queijo), aos sinais: verticais; marcas rodoviárias;
sinais luminosos; sinalização temporária; sinais dos agentes reguladores de trânsito; sinais dos
condutores .... ocorre-me, no capítulo dos sinais luminosos, a minha velha ( há quantos anos venho
massacrando o meu leitor com esta estória!) ideia de que seria de grande utilidade um sinal
luminoso, intuitivamente azul, que indicasse, de forma inequívoca, a minha intenção de estacionar.
O condutor que me precede ficaria obrigado a conceder-me espaço de manobra para realizar a
operação sem qualquer risco.
Ora bem, o voltar ao Código (brrrrr!) traz à superfície a velha ideia, que retomo e trato de expor a
tudo e toda a gente que me pareça vocacionado para lhe prestar um mínimo de atenção. Ao já citado
autor do livro de leis de trânsito, nomeadamente, que, pela tardança na resposta, deve estar ainda a
digerir a minha insólita exposição:
é um cérebro destes, do deserto alentejano, que vai segregar um sinal novo, não contemplado
ainda no Código adoptado à escala Universal -tomo a liberdade de pensar!
Volta a responder-me ( em rigoroso exclusivo) uma entidade de Évora, que ouso recomendar a todo
o Alentejo que sabe que inovar não é só construir telescópios ou aeronaves espaciais. Uma tal de
GAPI – que funciona junto da Universidade de Évora – que se disponibiliza, sem nenhuns encargos,
a prestar-lhe valiosos apoios nos seus “arroubos” criativos.
Para me esclarecer – obrigado, senhores, pelo Vosso atestado de sanidade mental – que a minha
velha e querida ideia já tinha sido patenteada. Por um tal senhor SIRJACOBS (cheira-me a judeu)
MICHEL, e KIM JONG JAE ( sem dúvida asiático) , em favor de SSANGYONG MOTOR CO
LTD.
Do meu inglês de praia, contemporâneo da fase juvenil de me deslocar pelo método “boleia”, vou
tentar dar-Vos uma pálida tradução das habilidades propostas pelo invento:
sinalização luminosa, que pode ser ou não multicor, fixa ou móvel, colocada na traseira, no
interior ou exterior do veículo, para indicar ou avisar, piscando alternada ou intermitentemente,
outros condutores da intenção de efectuar uma marcha-atrás ou manobra de estacionamento.
Falta ao invento patenteado definir a côr – que sugiro, intuitivamente, AZUL
Julgo- agora já nem sei – que foi ao próprio autor do Código da Estrada que propus trabalhasse a
ideia junto, por exemplo, da Auto-Europa . O destinatário da minha exposição deve estar ainda a
partir a moca a rir. Ou a mostrar aos filhos e parentes, num serão divertido, que o país não avança
porque está cheio de “malucos” como este.
Leitor amigo, não se assuste – que não vou dizer o palavrão.
Abraço para si
desencartado António Saias

domingo, 27 de maio de 2007

CONVERSAS E CEREJAS – TEMPO DELAS

Leitor atento – ao que parece assíduo – interpelava-me outro dia, na esplanada, sobre se eu já tinha
arranjado casa, porque tinha lido a saga da” Rua do lagar dos Dízimos”, a estória em que o
protagonista é um coleccionador de objectos de arte em luta com a falta de espaço para desenvolver
o seu negócio. Não é bem na Rua do Lagar dos Dízimos, mas olhe que não fica muito
longe...continua interessado?- questionava o meu amável frequentador.
Para dizer que muitas vezes aquilo que escrevemos não passa de ficção, como que um passeio pelo
Parque, a seguir ao jantar, a passear o cão, ou ficarmos na varanda a contemplar a lua ou
simplesmente a escutar o respirar da Rua. Fruindo a paz da digestão da cidade do Sossego
Acabo de reler Gogol: A Cidade do sossego e O Capote
o drama ingente do funcionário público Acaqui Acaquievich- que toda a sua vida se resguardou do
frio sob um capote velho – desbotado, coçado, transparente e puído que nem pano de peneiramotivo
de chacota de todos os colegas de Repartição,
que resolvem presenteá-lo com uma festa deslumbrante no preciso dia em que ele se apresenta ao
serviço exibindo com orgulho o seu capote novo.
A festa terminou alta noite, acontecendo que o nosso herói Acaqui Acaquievich – de regresso a
casa é assaltado, espancado e impiedosamente despojado do seu Capote novo.
Uma estória de medo
Que é o que sinto quando pego a chave do meu velho Mercêdes, o retiro do barracão que serve de
garagem desde há 3 longas semanas – tantas são as que, por imposição da lei, não posso nem tocarlhe.
Começa a faltar água em casa . A água de consumo diário em casa provém de 4 origens. A
saber: a) – de poço, altamente poluída pela agricultura intensiva praticada a menos de 10 metros,
utilizada apenas em lavagens: roupa; loiça; chão; banho; sanita e semelhantes.
b) – Charca (você conhece: das minhas culturas aquáticas - “Placas Flutuantes” - tenho no momento
gladíolos majestosos) – para rega da pequena horta de apoio à minha magra subsistência.
c) – do Poço da Horta do meu amigo senhor Cachola – exclusivamente para cozinhar.
d) – do Supermercado – garrafões de plástico de 5 litros ( Sousa Sintra & cª. ) - exclusivamente
para beber e fazer cubos de gelo para algum copito de escocês.
Tenho portanto que ir à água (c e d ) . Que não posso transportar na bicicleta. Que transportar de
Táxi me fica mais cara do que comprar a própria empresa que a fornece: Luso; Pedras; Serra; sei
eu lá....Telefonar a um amigo:eh pá, não te importas de passar por aqui, que eu preciso de ir à
água? - também não faz sentido
Arriscar dois quilómetros de estrada até à Igrejinha – nunca a polícia local me pediu os
documentos. Mas, se arrisco, não vai repetir-se comigo a tragédia de Acaqui Acaquievich? :
um ensacado de “porrada” e apreensão da viatura?
ci)
Aviatura ...viatura aéra... aeroporto-
Conversa do ministro: verborreia; diarreia verbal; incontinência oral.....
Deserto? Deserto está o povo (da margem sul) que o homem ganhe Norte
Mesmo o tido como sensato dr. Almeida Santos resvala para o chavanco da demagogia quando
alega, em defesa da OTA, o perigo potencial da destruição de pontes. Não esperava essa,
respeitável senhor! Que pontes? As 3 que já existem ou a projectada 4ª.?
Quarta – Carta... Carta -de-condução...Anúncio: namorada- procura-se: que tenha carro e carta de-condução. Importante – VÁLIDA.
É favor enviar fotografia.
Da Carta
Mesmo desencartado- seu
António Saias