quarta-feira, 29 de agosto de 2007

ABÓBORA & MENINA




Tudo na Horta do Ti Cachola tem o seu quê de grandioso:
Simetria
Côr
Esplendor

Na foto - Abóbora, com mais do triplo do peso da Menina.
Abóbora/Menina?????

terça-feira, 28 de agosto de 2007

TELEFÉRICOS

Não sei quantos destes equipamentos funcionam no momento em Portugal.
Conheço dois, de características diferentes:
Um, mais antigo, no Jardim Zoológico de Lisboa; outro, mais recente, que sobrevoa parte das
instalações da EXPO.
As tempestades do último fim-de-semana mostraram ao país a AVARIA no Teleférico de
Guimarães.
Mais do que uma vez, em tempo sem memória, sugeri no Diário do Sul a instalação/exploração
de um destes equipamentos – com percurso a partir do ALTO DE S. BENTO. É fácil imaginar
como seria belo “sobreavistar”, silenciosamente, o Convento da Cartuxa (heresia minha?)
retomar o traçado do velho Aqueduto da Cidade, vaguear pelo Centro Histórico e voltar de novo
ao ALTO DE S. BENTO.
Câmara de Évora, Região de Turismo, Grupo Pró Évora, Ippar, Associação Comercial – sei lá
mais quem – podiam discutir a sugestão.
É de meu tempo (86-90), como vereador na Câmara de Évora, uma primeira abordagem deste
tema. Numa breve conversa exploratória, que terminou com a reiterada insinuação de que eu
não passava de um eterno sonhador.
Mas é também coevo desta abordagem temerária – uma acesa discussão sobre a introdução
dos trens puxados a cavalos no “sagrado”, intocável Centro Histórico.
E eles, felizmente, aí estão – mais animando do que perturbando o património secular.
Espero não ofender ninguém com a proposta
António Saias

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

OS CASTANHEIROS DOS CANAVIAIS

Decorre não sei quando, hoje, 27, amanhã – não sei – uma visita julgo que parlamentar aos
trabalhos de reflorestação da Serra de Ossa. Não sei como vão fazer, não percebo nada disso,
embora regente-agrícola de raíz ( como se diz na bola) sei que é matéria da exclusiva competência
da silvicultura e ciências afins. Vão reeucaliptar aquela paisagem tão bonita, tão quase original,
como a de que sobram trechos em torno do velho Convento convertido em Unidade Hoteleira?
Substitir os eucliptos – dominantes – por pinheiros, não menos rentáveis mas igualmente
descaracterizadores e inimigos do escosistema primitivo?: sobreiros e azinheiras, medronheiros,
sargaços, rosmaninho, fetos nos lugares humidos e protegidos pela sombra, zonas pantanosas com
juncos e anfíbios, ninhos de perdiz, "loiras" de coelhos, ninhos de melros pelos silvados, rouxinóis
alegrando as noites quentes e paradas de Verão?
Eucaliptos e pinheiros – já viram – por favor, mais não! Os senhores da celulose, das acções na
Bolsa, essas sim de crecimento acelerado, vão fazer dinheiro para outro lado. Deixem a magnífica
fonte de água cristalina, à beirinha da Estrada, retomar o seu velho murmúrio que refrescava o corpo
e alma de quem adregava cruzar aquelas estradas.
Desconheço, portanto, o plano de reflorestamento da mítica e outrora tão rica Serra d´Ossa. E,
repito, não percebo nada disso.
Ocorre-me, contudo, que o desaire recente recomendasse o retorno aos Quercus – sobreiros,
carvalhos, azinheiras – e mesmo a culturas aparentemente não adaptadas às condições
edafoecológicas da zona. Retomaria aqui – só para lhe conferir um mínimo de credibilidade – uma
ideia que li neste mesmo periódico sobre um velho projecto, adiado, de instalar naquela Serra uma
plantação industrial de CASTANHEIROS.
Ora bem, ontem mesmo visitei uma pequena plantação de árvores desta espécie (½ ha) – nas
condições mais adversas que é possível imaginar para o seu natural desenvolvimento:
solos de classe D, sem aptidão agrícola; com afloramentos de granito; pouca água para rega.
Segundo o seu actual proprietário, são regados uma vez por semana.
A pequena plantação fica nos Canaviais, como se escreveu em título, na Quinta do Lagarto, lote 35 .
É bem visível da Estrada o estado exuberante das plantas, carregadas de "ouriços" – a cerca de dois
meses ainda da plena maturação dos frutos.
Falando com o proprietário, soube que a produção é muito irregular – plantas que produzem frutos
grados, comerciáveis, ao lado de outros de muita produção mas de frutos de tamanho reduzido.
As plantas foram obtidas a partir de semente, comprada na altura em plena Praça do Giraldo, nos
habituais vendedores de castanhas que dão cor e cheiro ao histórico local.
Terão cerca de dez anos, não foram enxertadas, são, por assim dizer, um capricho da própria
natureza. Quem as plantou é um lunático ( espero que o homenzinho não me esteja a ler neste
momento) um nefelibata – como se dizia em grego antigo- alguém que anda nas nuvens. E o
proprietário actual, que tive o prazer de conhecer e com quem conversar, olhe que o senhor também
– deixe que lhe diga. Falou-me em ir instalar rega subterrânea na parcela. Para os castanheiros? Só
devem dar-lhe prejuizo. Lindos na verdade, uma autêntica delícia para os olhos, mas o resto?
Senti-me orgulhoso pelo homenzinho que se lembrou de plantar os castanheiros. E pelo
proprietário- que se dá ao trabalho de se deslocar para os regar uma vez por semana.
E ocorre-me sugerir aos Serviços Regonais de Agricultura, à Universidade, aos projectistas do
reflorestamento da antiga formosa Serra d´Ossa – uma visita atenta a esta pequena "exploração".
Talvez pudessem colher ali ensinamentos sobre o comportamento destas plantas – em condições
edafoecológicas naturalmente bem mais favoráveis do que as destes solos esqueléticos e secos dos
Canaviais.
E, por que não, instalar desde já não a plantação industrial em tempos projectada – duas ou três
parcelas, a título experimental, na desflorestada Serra d´Ossa.
Se por acaso estiverem interessados, até posso apresentar-Vos o lunático, o nefelibata que se
lembrou de plantar CASTANHEIROS nos Canaviais. É pessoa chegada!
Cumprimentos e abraços a Vós todos
António Saias

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

REQUIEM PELO ÚLTIMO FAUNO DA IGREJINHA

Mesmo assim tiveste sorte: era próximo das sete, o calor não apertava por aí- além, tinhas meia
Igrejinha a dizer-te o último adeus.
Como não acharias piada a esta vulgaridade comezinha, pequeno-burguesa, judaico-cristã, grotesca:
dizer-te o último adeus! Gente frouxa, não é?
O Sol, já reclinado, batia nas parras das parreiras do ti João das Bombas, olha, a última granizada e
este estúpido fim de Agosto dão-lhe um porradão na produção de tinto deste ano.
Gostarias de saber que tinhas raparigas bonitas mesmo atrás de ti. Ó Gil, nem elas te esqueceram! E
a Aldeia quase em peso, o presidente da Junta e a mulher, tanta gente, Gil, nem podes mesmo
imaginar!
Se fosse eu – e eu hei-de ser um dia – faria um trovoadão maluco, como este último que arrasou os
campos e as colheitas, seria à hora da transmissão televisiva dum Benfica Sporting ou coisa
parecida, um torneio de malha, um campeonato de sueca – e lá iria sózinho, como se diz e tu
também não gostarias, até à última morada.
Escrevi uma vez, a propósito já nem sei de quem – mas julgo que se adapta perfeitamente a ti,
amigo Gil, acompanhado à sua Primeira Morada. Será mesmo? Onde acabamos de te acompanhar -
tua primeira e única morada? Conheci-te a morares no Pomarinho. Um Monte em escombros, a cair
aos bocados, será que pagavas renda? Olha, não sei nem quero saber.
Escrevo a ouvir neste momento uma música maluca de Strauss. Richard Strauss. Nem te passa pela
cabeça como seria bonita para te acompanhar. E com um nome sugestivo: Fanfarra para um
Homem Comum. As pessoas de letras que lêem esta estória bem podiam dar-se ao trabalho de
procurar um CD com essa tal fanfarra. Para terem a certeza de que não estou a inventar.
Já tinha escrito sobre ti. Não sei mais onde é que isso pára. Como me esqueci de renovar a carta, e
tive agora que palmilhar a pé quase metade do caminho entre o Monte e a Igrejinha para te
acompanhar.
Mas é giro, sabes, que a Aldeia guarda na memória algumas das passagens mais significativas do
passado escrito? A estória dos bonés, que usavas a teu bel-prazer, contra a obrigatoriedade de
Scollari – teria sido em época de exacerbação futebolística nacional – de Scollari, dizia, ter que se
exibir perante as câmaras de televisão Sagres, Coca-Cola, PT ou TMN, ou coisa parecida, porque
isso lhe rendia alguns milhares de contos. A tua ingénua liberdade, Gil, de usares o que te dava na
cabeça. E se me lembro também de te ver exuberante: à escocesa, à inglesa, sei eu lá, com um
casaco rosa-velho, camisa escura com bordados genuínos – flores lilases – boa calça preta, vincada
como se saída de mãos de namorada, Gil, um autêntico modêlo.
A inseparável caninha – isso é que destoava de maneira notória do conjunto.Tens que concordar!
Do nosso último contacto esportulaste-me pelo menos 5 euros. Não se faz. Eu fazia um trabalho
académico para a Universidade – uma tese de mestrado, que é assim uma coisa muito séria, tão
contrária à tua, e ao cabo minha, maneiras de estar na vida, tinha que fazer-te uma entrevista, sei
que adiaste, por isso, uma partida de bisca,
Gil, lambias indecorosamente as cartas, de maneira até lasciva, diria. Ninguém ligava mas olha que
era um nojo. E um perigo para a Saúde Pública. Cheguei a escrever para o Ministério da Saúde,
sugerindo que o hábito nacional de lamber as cartas contribuía seguramente para a propagação desse
tal pseudococus não sei quantos – o agente infeccioso da tuberculose. Bem feita porque ninguém me
respondeu. Mas foi por tua causa, Gil, única e exclusivamente pela maneira ostensiva como
passavas o polegar pelo meio da língua de cada vez que sacavas uma carta do baralho.
E a privação dessa partida custou-me, não esqueço, Gil, a módica quantia de 5 euros. Parecendo que
não era um conto de réis em moeda antiga.
Estás na minha tese de mestrado. No tal livrinho de que te falei ainda há pouco. Em frente à garagem do Traguedo, com o teu casaco de flanela e a boina protectora, a velha cana – tão habitual
em ti como um cigarro a arder.
LEGENDA:
TANISSA (o GIL) – indiferenciado típico
pode fazer dezenas de quilómetros a pé por um molho de cardos ou de espargos, por meia-dúzia
de vassouras ou vasculhos, por uma especialidade cinegética fora de época, no regaço do defeso.
Não disse às claras que eras um inveterado caçador furtivo. Um exímio armador de ratoeiras e
armadilhas. Nem essas coisas podem ser escancaradas assim nos trabalhos ditos académicos, nem as
autoridades policiais podem estar lá muito pelos ajustes. Entendes?
Vai demasiado longa a minha narrativa. Para publicarem isto no Jornal – não pode exceder um
determinado número de caracteres. Quer dizer: de palavras . Como sabes, no sacana deste Mundo é
tudo feito por medida. Tudo obedece a leis, a normas, a regras, a preceitos – não te disse já que
estou de novo a fazer exame de condução porque me esqueci de renovar a carta? Sei que não sabias,
Gil, a tua transferência para o Hospital de Mora vai para dois meses....
Onde nós, anarcas, como tu e eu, ganhamos a toda esta gente burocrática, formal, metódica,
organizada – como a vida exige, dizem, sabes no que é? Nas coisa pequeninas. Tu muito mais do
que eu, que tinhas que estar desperto para a Natureza. Acredito que sentisses, na cama, entre o
sussurro da chuva miudinha, o rumor do rebentar dos torões dos espargos – bem longe, por esses
campos fora. Exagero?
Para teu conforto – sei que só eu reparei nisso – enquanto o padre encomendava a tua alma ao
criador, amigo GIL, um pintassilgo serôdio cantarolava de entre a ramagem do mais próximo
cipreste.
Adeus Tanissa (GIL) – um indiferenciado típico

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Exmos senhores

68 anos de idade, sem carta de condução desde Maio – porque não me lembrei que tinha fazer
renovação do documento aos 65 anos. Já disse que considero uma imperdoável lacuna, em
plena época informática, que cada Direcção (regional) de Viação não faça chegar junto dos
utentes, em tempo útil, a informação de que a validade da sua carta de condução vai terminar.
Punir este esquecimento com a apreensão da carta e a obrigação de fazer exame de condução
de novo é no mínimo CRUEL. Para não lhe chamar um acto de TORTURA.
Vivo, sozinho, num Monte, no Alentejo. Aos 68 anos de idade – o transporte automóvel é parte
integrante, mesmo elementar, da minha autonomia. Não há transportes públicos que permitam
deslocar-me a Arraiolos ou à Igrejinha, fazer as compras necessárias à minha subsistência.
Para não falar da probabilidade elevada de necessitar, aos 68 anos, de uma deslocação
urgente por questões ligadas ao foro de saúde.
CONSEGUI LIBERTAR-ME de um discutível exame de Código (reprovam 70-80% dos
examinandos) no dia 2 do presente mês.
Conduzo desde os 18 anos – sem acidentes graves, sem infracções que não seja esquecerme,
de 5 em 5 anos, que tenho que actualizar o maldito documento.
Julgava-me então, desde esse já distante dia 2, que estaria para breve o fim deste verdadeiro
SACRIFÍCIO. Acabo de telefonar para DGV de Évora, e de ser informado de que: ah, sabe, há
falta de examinadores…..estamos agora com um atraso nos exames de cerca de SETE
SEMANAS…..
Exmos senhores:
Isto significa que, mesmo que eu tenha a sorte de passar à primeira vez, vou ter que Esperar
aqui no Monte ainda mais Dois Meses para reaver a minha carta de condução?
Adoro, desde a primeira leitura, o nosso Nobel Saramago. E as suas recentes declarações
públicas sobre a inevitabilidade de nos juntarmos aos espanhóis não deixou de me surpreender
e até chocar!
Tenho o maior respeito pelos Hino e Bandeira Nacional; pelas Maria da Fonte e Padeira de
Aljubarrota; a maior admiração pelos actos heróicos de D. Afonso Henriques e Nuno Álvares
Pereira; pela ousadia e espírito de aventura de Vasco da Gama e Pedro Álvares Cabral….
Mas olhem que essa tal de IBÉRIA – já entrevista pelo Nobel em Jangada de Pedra – começa a
não me desagradar de todo…
Um atraso nos exames de cerca de SETE SEMANAS……
Melhores cumprimentos
António Saias

terça-feira, 21 de agosto de 2007

50 ANOS DE MEMÓRIA

(aos nossos Pais; àos nossos Mestres; às nossas Noivas)
Bom, é assim, vamos lá falar com calma!
Esta é seguramente a nossa última reunião para comemorar as chamadas “bodas”. As “de prata” já
se perdem nas brumas da memória. Há 25 anos todos estávamos ainda no activo, todos tinhamos
capacidade de realizar e de sonhar, de escalar montanhas ou fazermos longas incursões no mar,
deslizar na neve ou enfiar um par de chapadões num larápio ocasional que tentasse sacar a carteira
a uma desconhecida velhota ao pé de nós.
Dos cerca de 30 que nós éramos – juntámo-nos, há 25 anos, pelo menos 20. Os outros, que faltaram,
andavam pelo Mundo, tentando conquistá-lo, ou, os mais sonhadores buscando transformá-lo.
Hoje, volvidos outros 25, dos trinta e tal já faltam muitos. Alguns porque definitivamente nos
deixaram, outros pelo incómodo intransponível que é deslocarem-se meia-dúzia de quilómetros,
quantos, espera-se que poucos ou nenhuns, podem, nesta hora, “gozar”a alegria forjada de um Lar
da 3ª.idade, lançando serpentinas e confétis, apitando em cornetinhas de plástico, vestidos de
arlequim ou de palhaço, com um chapéu de papel-de-lustro de cores vivas, com borlinha na ponta a
abanar.
É, não é, a crueldade da vida!
Vamos lá falar com calma!: a Estatística, a Demografia, a Gerontologia – lá o raio que os parta –
dão-nos, em média,menos de uma dezena de anitos para podermos contemplar o radioso nascer-dosol
ou o seu soturno sumir-se por detrás dos Montes. A realidade é esta!
Ó Malta, ALTO Ó ALTO CHARRUA, ALTO Ó ALTO CHARRUA! mas qual de nós, dos que
acabamos de nos abraçar, de escavar lembranças radiosas, de verter uma lagrimita de saudade, qual
de nós se perde a pensar que semelhante “maldição” um dia se abate sobre nós?
Ninguém, claro, sai um copo e um brinde à nossa eterna Juventude!
Folheando o vélhinho, de 50 anos, Livro de Fim-de-Curso, dou comigo a ler as tolices que escrevi
quando ainda não chegava aos 20. E vou retomar alguns desses devaneios para dar resposta ao RUI ,
ao seu pedido insistente para que escreva alguma coisa sobre as nossas Noivas, os nossos
Mestres....etc.etc.
(dizer, entretanto, que este nosso encontro se deve em particular à carolice dos jovens Rui de
Carvalho e Vasco Passanha, com recurso a mim – para alinhavar a “prosa”- recorrendo, eles, a
muitos dos seus euros e das suas horas, que vêm consumindo ao longo de alguns meses. Mas
também ao Costa e ao Simões, que, não sendo do Curso, é justo se destaque a sua generosa
participação nesta difícil tarefa. E a outros que não cabe aqui citar, mas que nem por isso são
esquecidos )
Seguiria então o nosso livrinho de memórias, e comentaria os tais simulacros de versos, de poemas,
que na altura me foram solenemente encomendados:
AOS NOSSOS PAIS
– paizinhos, partimos dentro em breve.....
– da Escola, claro, e não da mas para a VIDA. Mandem-nos dinheiro....( o eterno apelo: para
livros- ainda não havia fotocópias, eu, pessoalmente, lembro-me de que estava a pagar um par de
sapatos que tinha comprado à tia Maria Boazinha: nem chegaram a ser estreados – eram do meu
defunto marido)dinheiro que não vinha em cheque ou tranferência bancária ou artifício
semelhante – em dinheiro vivo, uma ou duas notas de mil, em carta, acompanhados de outras
tantas recomendações de moderação nos gastos.
Pois nesta hora – talvez a derradeira -
– pedimos de mãos postas, como há anos,– desculpa de toda, e tanta, brincadeira,
– de tantos dissabores, de tantos desenganos
– Isto porque o pessoal não raro adiava a passagem de ano – fosse pela aridez da matéria
tecnológica Penedo, do empastelanço da Agricultura Geral Piçarra, não tanto pela Mecânica
Agrícola suave de Sardinha. Ah, e havia ainda uma Patologia Vegetal, ou coisa semelhante,
Vilela, se não erro, que também não era pera doce. Certo, certo, é que a rapaziada à s vezes tinha
que chegar a casa e transmitir a notícia funesta do hoje chamado falta de aproveitamento
escolar. Modernices!!!
– Nossos Pais e Mestres estão hoje, infelizmente, na mesma vasta categoria dos desaparecidos.
Invocamos, com respeito, a memória de todos, e pouco mais nos resta do que recordá-los.
– Já com as nossas NOIVAS assim não acontece. Muitas delas acabaram por casar connosco,
tiveram que aturar-nos até hoje, sobrevivem, também pela estatística, àqueles que já não podem
de todo estar presentes.
– Quantas lágrimas sabe Deus choraram
– quando ao ver-nos partir – tristes momentos-
– quantas lutas por nós, doces tormentos,
– nos peitos clamorosos se travaram
quantas de vós em nós depositaram
vossas vidas por nossos mandamentos
Quantas de vós, por nós, são elementos
gémeos dos próprios que sonharam
Já agora o resto. Também eu estou velho. Mas não deixa de me agradar aquilo que escrevi,destinado
a todos, de maneira ingénua há meio-século. Estou sózinho no Monte, é quase meia-noite,
acompanha-me a música inspirada de Chopin. Já gostava de Chopin quando escrevia esta espécie de
soneto às Nossas Noivas.
Não nos teremos nós sacrificado
por alterar dos livros o seu Fado
chumbando um ano ao pôr de parte o estudo?
Triste missão, sublime entendimento:
sacrificar tão pouco a tanto alento,
sacrificarmo-nos -nada- por vós Tudo
Quantos de nós casámos com as nossas "noivas" da altura? Que ternura é ver como assinavam os
versos que então nos dedicavam:
para sempre tua Margarida; da tua noiva amada Rosalina; eternamente tua... ; ALGUÉM....
Já somos só passado. Para trás de nós não resta nada: nem Pais, nem Mestres, nem a própria Escola.
Morreram de vez os jardins edénicos onde os dias da nossa mais forte juventude se passaram.
Lagos, cascatas, amoreiras frondosas, tílias, intermináveis caramanchões de buganvílias, rosas,
flores...
Porque cada vez mais curto, resta-nos pensarmos no futuro. Nos filhos, nos netos sobretudo.
Só por aí, por eles, nos é legítimo acreditar que podemos dar continuidade à nossa loucura e aos
nossos sonhos.
Grande abraço a todos
NOTA – esta prosa destina-se a ilustrar uma publicação caseira de comemoração dos 50 anos
do Curso de Regentes-Agrícolas- da Escola de Évora

ETOLOGIA DE NOVO

1 – já explicámos: é uma ciência, relativamente jovem, que estuda o comportamento dos animais, as
suas estratégias de adaptação ao meio, as piruetas que têm que fazer quando as coisas lhes correm
de maneira menos favorável. Uma das teorias da origem da vida sobre a Terra aponta para que tudo
tenha começado (a vida) na e com a água. Até chegar a nós, homens, imagine-se as adaptações que
os nossos avozinhos tiveram que fazer.
A não ser que se acredite – como fazem crer as teorias criacionistas tão em voga – que os pais
destes seis mil e tal milhões de bípedes falantes tivessem sido mesmo os bíblicos Adão e Eva, com
uma estória de serpente e maçã metida pelo meio.
Um respeitável cientista barbudo, chamado Darwin, é que em princípios do século passado deu à
luz uma teoria revolucionária que desmentia que Deus tivesse feito as coisas – vivas sobretudo – tal
qual as conhecemos hoje: as lagartixas nem sempre foram lagartixas, os perús podem muito bem ser
o que sobrou de certos dinossauros.
Enfiou-se num barco – modernaço para a época, embora sem requintes de conforto, e segurança,
que hoje têm essas metrópoles flutuantes- e navegou até Galápagos e outros lugares remotos onde a
vida não foi muito influenciada pelo homem, recolhendo fósseis e observando, ao vivo, exemplares
de “calça arregaçada” da evolução.
Trouxe para a Europa caixotes cheios de provas irrefutáveis da teoria que acabava de criar, e
lançou-se a proferir conferências e palestras nas Universidades, explicando por A+B que o homem
nem sempre foi o gentleman inglês de chapéu de côco e de monóculo, assistindo em Londres aos
dramas de Shakpsear, bem pelo contrário: nasceu na selva tropical e aí cresceu a saltitar de galho
em galho, até ser expulso para a estepe – onde teve que adaptar-se a perseguir a caça para se
alimentar, a fazer-se entender para combinar estratégias de defesa, quando não de ataque ao
inimigo.
Isto, estas explicações do barbudo cientista senhor Darwin, até pareciam de aceitação universal, até
que surgem reacções “bem financiadas” que vêm dizer que não senhor: Deus fez Adão e Eva, e daí
nasceu a Humanidade – do João Vieira Pinto e da Florbela Queiróz a Pinto da Costa e ao advogado
Vale e Azevedo. Ou ao senhor Sousa Cintra – que este ano fez a abertura da caça à rolas e afirma
que havia muito poucas.
O que tem isto a ver com a Etologia do título da estória – perguntará o meu leitor já regressado de
merecidas férias? : Com as estratégias de que os bichos são capazes – o tal struggle for life (luta
pela sobrevivência) dos mais fracos para se defenderem dos possantes e dominadores.
A estória é-me contada pelo veterano senhor Ramos, no Éden de Moura, na esteira da pergunta que
lhe fiz sobre um Carro de transporte de água que decora o magnífico Jardim
– Era dos Bombeiros, para o combate aos fogos?
– Não senhor, era da Câmara e servia para lavar as Ruas. Eu comprei um parecido há pouco tempo
em S. Matias. Com rodas de borracha. Para levar a água para as vacas. Eu já não quero saber
daquilo. Entreguei ao meu neto. Os meus 82 anos já não dão para muitas aventuras.
– Continuo a dar-lhe alguns conselhos. São 60 vacas, e veja que o rapaz se lembrou de lhes soltar 3
touros. Vê bem que não pode ser assim, rapaz, há um touro agora, mais forte, que dá porrada nos
outros dois e não os deixa cobrir as vacas. Sabes o que vai acontecer?: quando chegar a
Primavera, e eles se sentirem com força suficiente, vão-se a ele, um à corna, para o entreter, e o
outro vem por trás e espeta-lhe os cornos na barriga. Mata-O !
É o mesmo que acontece com os homens – concretizou ti Ramos – vossemecê não sabe? : há
sempre um galifão que dá porrada em toda a gente. Até que um dia, na Taberna, os ânimos
aquecem, e lá se vai a fanfarronice na ponta duma navalha “ponto-e-mola”!!!!
Ti Ramos, se calhar sem dar por isso, acabava de me presentear com uma eloquente lição de ETOLOGIA.
Por aqui nos ficámos – eu com a consciência plena de que já ganhara o dia
Ainda calor(oso) abraço

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

INSTRUÇÕES PRIMÁRIAS
MANHÃ – SÁBADO – ESTREMOZ
Conheço Estremoz desde miúdo. Talvez desde ter consciência de existir. O pai tinha sempre boas
parelhas de mulas, que engatava num carro bem estimado e oleado por ocasião da Feira de
Santiágua, onde carregava a família e não sei quantos cabazes de alimentos cozinhados que
bastassem aos dois dias que durava a Feira.
O itinerário obrigatório era o seguinte: Almadafe – Monte da Guarita – Casa-branca – Cano –
Romeiras – Santa Vitória do Ameixial – Estremoz.
Família: pai e mãe nos lugares da frente; a avó ( a matriarca ti Maria da Barroca) ; o mano e eu –
separados por dez anos de diferença-um de cada lado da avó; a prima Joaquina, que era uma espécie
de despenseira da barulhenta caravana – todos acomodados em mochos de madeira de choupo com
assento em bunho.
Cuidadosamente arrumados entre os mochos, nas traseiras do carro, os cabazes da comida – também
eles organizados por uma ordem cronológica de utilização: o corpulento galo de tomatada, o pão, os
paios, mais a palamenta necessária às refeições – num cabaz volumoso praticamente inacessível - ; à
mão-de-semear, num cesto de verga menos recatado, bolos de toda a espécie – dos bolinhos de areia
ao fofo pão-de-ló – para consumo ao longo das cerca de 3 horas de viagem. Com licores também
diversos, de fabrico caseiro, atraentes não só pelos aromas como pelas cores variegadas e apelativas.
Arrancava a bem-disposta caravana antes ainda do raiar da aurora, com as estrelas quase todas bem
visíveis e os galos amadorrados nos poleiros, acordados mais cedo pelo ladrar dos cães e pelo
alvoroço inusitado das pessoas. Disparavam a cantar em tempo prematuro, se bem calhar mais para
contestar a algazarra do que para despertar quem nitidamente já o estava.
Breve introdução ao relato, também curto, do meu último Sábado em Estremoz. Não já em carro de
mulas nem do Almadafe, mas num confortável automóvel familiar; e não do Monte da Guarita mas
de uma igualmente periférica Quinta Nova.
Por volta das dez horas, o Rossio de Estremoz é um mercado. Um Bazar enorme a céu aberto, uma
paleta viva de cores, aromas, vozes, nozes, negócios, azeitonas, tangerinas (como em Tânger), redes
com ninhadas de coelhos – à semelhança de Xangai ou de Hong-Kong – fumo do azeite de fritar
farturas, o latido de um cão pisado de maneira ocasional, quinquilharias, bugigangas, abóboras do
tamanho de meninos, mogangos enrolados como trombones de orquestra regional, ervas de cheiros,
temperos, sálvia, orégãos, tomilho, pássaros de gaiola, pintos, patos, résteas de alhos, tranças de
cebolas, eflúvios de aromas de temperos das azeitonas: louro, limão, orégãos, tomilho, mangerona;
vozes, muitas vozes de pessoas que trocam cumprimentos, permutam novidades, contam estórias, o
Rossio de Estremoz aos Sábados é um autêntico Bazar.
Mas a ida a Estremoz, neste Sábado de Agosto, tinha fundamentalmente em vista visitar o antigo
Convento das Maltesas. E o Centro de Ciência Viva, do Polo local da Universidade de Évora, com o
seu estendal de coisas maravilhosas da Ciência – para ver, mexer, e entender. Que pena não
poderem deslocar-se à Feira e aos mercados semanais para mostrar àquela gente como funcionam os
Vulcões, como evoluiu a Terra desde o seu grande Continente único até aos dias de hoje –
ameaçada de colapso. Exibir em público o monstruoso esqueleto dinossáurico ou permitir aos
curiosos mercadores medirem a radioactividade dos calhaus trazidos lá do Monte!
Não sei por quem tenho o privilégio de ser lido. Nem, dos que me lêem, os que são capazes de
seguir a mais simples das minhas sugestões. Arrisco, contudo, lançar aqui, aos meus eventuais
leitores, a dupla sugestão:
visitar e fazer compras no Mercado de Sábado de Estremoz; maravilhar-se com o grande Circo que
é a Exposição permanente de Ciência, logo ali à mão – no parcialmente recuperado Convento das
Maltesas. Se é capaz de se encantar com um, não deixará de se maravilhar com a grandiosidade que lhe proporciona o outro. Eu fui acompanhado/dirigido pelo jovem cientista Pedro. Suponho que os
outros seus colegas estarão tão aptos quanto ele a explicar-nos o percurso sinuoso que nos levou das
Cavernas e das Grutas do Escoural ao Bazar dos Sábados em Estremoz. Mesmo assim, que os
outros me desculpem, não deixaria de recomendar o Pedro.
Abraços para todos

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

“quadra p´ra pular”

O Amor é um balão

No peito de cada um

- ou se controla a pressão

Ou, se enche demais, faz PUM

GENTE QUE NÃO DAVA MÃO

Recuando meio-século, onde é hoje um polo da Universidade de Évora, em Valverde, florescia uma
sub-espécie sapiens que dava pelo nome de "regentes agrícolas".
Constituida por especimes vulgarmente rudes, mas sensíveis, dominavam o Habitat num regime
caçador/recolector – que punha em risco, indescriminadamente, todos os outros seres-vivos do
ecosistema:
dos pacíficos pombos e aves de capoeira às corpolentas ovelhas e suinos de montado. Das
bucólicas pardelhas da Ribeira(quando era altura disso) aos bíblicos cordeiros amamentados a
biberon por todos os membros da família. Nada escapava à voracidade insaciável de uma centena
e meia de elementos desta sub-espécie.
Viviam em grupos- melhor dizendo em Hordas- obedecendo a impulsos naturais, controlados por
líderes informais, ciclicamente renovados.
Cumpriam rituais, por vezes sacrifícios – a que chamavam Praxes- mas eram capazes de rasgos de
ternura e de solidariedade que só recentemente os governos entenderam assumir.
Este bando de energúmenos chamou a si – quando era desconhecida a hoje designada Segurança
Social- o cuidado global: vestir, calçar, alimentar, fornecer abrigo, acarinhar – a 3 ou 4 velhotes
retirados da prática diária de mendigar pelas Ruas.
Esta sub-espécie, de que restam poucos exemplares, usava
F A R D A S
uma de trabalho – botas caneleiras de cabedal
calças de ganga azul
camisa – também de ganga azul
chapéu cinzento de aba larga
Blusão de saragoça
(naturalmente acastanhado)
tolerados, para uso interno,
safões de pele de borrego
era a farda diária – das aulas,
práticas mas também teóricas,
de jogar à bola ou
das fugas pela Ribeira
à caça das galinhas dos vizinhos.
Era assim fardados
que partíamos em bandos
à conquista da Cidade.
E a invadíamos como um hálito
-as meninas finas
do Colégio de freiras
diziam, coradas,
que nós cheirávamos a cavalos.
Os polícias
olhavam-nos de lado,
as mães redobravam
vigilância sobre as filhas,
os donos das Tabernas
não escondiam um sentimento duplo:
de medo pelos distúrbios
de interesse pelo lucro
com esta farda
com o passar dos anos já puída -
tanto nos debruçávamos
sobre os balcões de mármore dos tascos
como de seguida
podíamos ajoelhar
na atmosfera mística
de um Templo
anjos/demónios
era aquilo que nós éramos
o punho
que esmurrava um rosto
numa briga
abria-se em carícias
para o rosto púbere
da última namorada
ou cozinhava a ceia
de meia-dúzia de velhotes
em Valverde
quando a Segurança Social
era estender
a mão a quem passava
Tínhamos outra farda
– mais farsa do que fardaque
vestíamos quando éramos solenes
igual à que
tanta vez vestimos
ao longo dos 50 anos
que nos separam agora
de meninos
De GALA
assim chamada a farda
– que era a de sermos sérios,
dos momentos solenes,
de ser, quando a vestíamos,
aquilo que não éramos

HUMOR E AMOR – NÓS TINHAMOS

Para dar e vender
Comigo o cartaz da nossa Garraiada – era Domingo, Maio 18, sendo o ano da Graça de 1958.
A garraiada dos finalistas da Mitra era um acontecimento social para a paroquiana cidade de Évora.
A rapaziada passava anualmente por alguns episódios ligados à chamada Festa Brava, sobretudo
participava em Ferras – que era a marcação da bezerrada com o estigma tatuado a fogo do “ferro”do
normalmente abastado seu proprietário.
Alguns, da rapaziada, eram eles-próprios familiares de proprietários de ganadarias. O que, à partida,
facilitava estas trocas culturais: toureava-se; capeava-se – com capote ou qualquer capa
improvisada; pegava-se – de caras e cernelha; davam-se, sobretudo, ciclópicos trambolhões. As
vacas, velhas e sabidas, eram peritas nesta prática.
Lembro-me de na Corrida anunciada no Cartaz – anual, de 18 de Maio de 58 – enfrentar um desses
cornúpetos carregados de malícia, a tarde era escaldante, a hora a própria dos grandes
acontecimentos desta natureza: las cinco em puento de la tarde.... Praça bem composta, quase cheia,
Benilde, a minha madrinha/namorada não parando de incitar-me: chega-te ao bicho, avança,
António, ele não morde....
E eu, poça, se eu tremia. Uma capa amarela de um lado e cor-de-rosa de outro, que ia agitando em
movimentos pendulares à minha frente, até que a vaca, que sempre se esteve nas tintas para as cores
berrantes do engodo e nem por um segundo deixou de medir-me bem os pés quietinhos e unidos, a
vaca disparou, com a armadura a rasar a areia da arena, pegou-me bem pela base e atirou-me ao céu
como um espantalho, um fantoche de feira, um espanta-pardais de quinchoso suburbano. Depois do
que me pareceu uma eternidade no ar – em cambalhotas, piruetas , loopings – aterrei, na precisa
posição oposta de que tinha arrancado de forma involuntária: de cabeça para baixo.
Lembro-me vagamente de ter acenado, de uma nuvem de pó e entre uma vozearia indistinta vinda
da chamada teia, para a minha madrinha/namorada, que agitava um ramalhete de flores destinadas
a premiar-me ao fim da lide.
Perdi por momentos os sentidos; retiraram-me em braços das investidas reiteradas da famigerada
vaca. Despejaram-me água pela cabeça abaixo, abanaram-me com leques e com lenços,
perguntaram se me sentia bem, sopraram-me na testa, tive a sensação de ter sido tocado pelos lábios
de Benilde...
Relatado o aparte, retomemos então o propósito do Cartaz:
Começa assim: GRANDIOSO, DESLUMBRANTE ATRACTIVO E TRADICIONAL
FESTIVAL TAURINO
Não sei bem porquê – presunção de lado – acho agora, volvido que é meio-século, que o meu
sentido de humor lavrou a todo o pano na feitura do prospecto!!! Palpita-me!
8 -MALCRIADAS & PENEIRENTAS ALIMÁRIAS -8
que confraternizarão amen...amente com os afamados diestros, num sensacional banquete com a
seguinte ementa:
ver comer talvez tenha mais beleza
se os pratos, como tais, são primorosos:
1º. prato: boa sopa de corno à portuguesa
2º.prato: corninhos fritos – com salada de ossos
Nota à margem: podem bisar-se os pratos sem pagar
se alguém, cá de fora, lá entrar
Mais um breve apontamento – para reiterar o nosso requintado humor:
2 – valentíssimos(?) grupos de forcados – 2
1º. Grupo:
12 – desgraçados & mal-aventurados moços de forcados -12
que tentarão brilhar a grande altura – consoante a leveza de cada um
e a potência da cornada.......
E pronto. Parece mentira – mas era assim há 50 anos.
Não me venha dizer que não divertiu!!!
Ah, e um beijinho à Benilde

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

40X4

1- A Gata Christie vai ser mãe. A Gata, tartaruga, monopata não resistiu ao sortilégio dos últimos
luares
A mãe da Gata Christie tem algures uma ninhada. Não sei onde, não sei quantos filhotes.
As gatas, e os gatos, são como os problemas. Parece coexistirem isolados mas na realidade
emprenham-se uns aos outros:
A tensão arterial salta para cima do colestrol, aí vem ninhada. A próstata – gata residente- deixa
seduzir-se pelas comidas temperadas. Sinto que em particular alheiras, com o inseparável ovo
estrelado e as batatas fritas.
2- Alerta amarelo para o Alentejo. Previsão de temperaturas na ordem dos 40 graus.
O meu instrutor de condução entende que as 11 da manhã – horário habitual – não é consentâneo
com a canícula anunciada pela Meteorologia.
– vamos ter que dar aqui um jeito no horário: importa-se de estar cá na quinta-Feira às 4 da
tarde?
– Digo que sim, já estou por tudo. O que implica sair do Monte por volta das 3 (15) , e ir para a
estrada em busca de boleia.
– Para estar lá por volta das 16 e cumprir mais uma das 32 indispensáveis horas de condução.
Não sendo assim muito pessimista, penso que esta gente está simplesmente apostada em dar-me
conta do canastro.
Recebam todos meu caloroso abraço

40X4

1- A Gata Christie vai ser mãe. A Gata, tartaruga, monopata não resistiu ao sortilégio dos últimos
luares
A mãe da Gata Christie tem algures uma ninhada. Não sei onde, não sei quantos filhotes.
As gatas, e os gatos, são como os problemas. Parece coexistirem isolados mas na realidade
emprenham-se uns aos outros:
A tensão arterial salta para cima do colestrol, aí vem ninhada. A próstata – gata residente- deixa
seduzir-se pelas comidas temperadas. Sinto que em particular alheiras, com o inseparável ovo
estrelado e as batatas fritas.
2- Alerta amarelo para o Alentejo. Previsão de temperaturas na ordem dos 40 graus.
O meu instrutor de condução entende que as 11 da manhã – horário habitual – não é consentâneo
com a canícula anunciada pela Meteorologia.
– vamos ter que dar aqui um jeito no horário: importa-se de estar cá na quinta-Feira às 4 da
tarde?
– Digo que sim, já estou por tudo. O que implica sair do Monte por volta das 3 (15) , e ir para a
estrada em busca de boleia.
– Para estar lá por volta das 16 e cumprir mais uma das 32 indispensáveis horas de condução.
Não sendo assim muito pessimista, penso que esta gente está simplesmente apostada em dar-me
conta do canastro.
Recebam todos meu caloroso abraço

NOVA CARTA ABERTA A UM JOVEM CIENTISTA

Estás de férias com família, na Praia do costume, com a roupa habitual das circunstãncias, com um
pequeno cabaz de vícios e costumes que vens acumulando desde a infância. Menos de um mês.
Talvez uns vinte dias – que os tempos não vão para extravagâncias.
Lembro-me de ti porque acabo de ler uma entrevista de Feynman, Richard Feynman, nóbel da
Física, pintor, sobretudo comunicador de ciência, talvez como Sagan. E também porque acabo de ir
espreitar o meu viveirinho de alfaces a flutuar no tanque de mil litros sombreado por ocasional
amoreira plantada pela incontinência ingénua dos pardais.
Ontem arranquei batatas. Do meio de um ervançum que me dá pela cintura – porque renunciei de
vez à utilização de herbicidas. Roçar primeiro as ervas, juncar o chão do batatal de milhãs e erva
pessegueira, depois cavar a terra farejando vestígios de batatas: uns pequenos berlindes roxos nas
primeiras cavadelas, há que ter cuidado porque a menos de um palmo estão dois ou três tubérculos
de peso.
No meio das ervas, e também espontâneas, uma pequena floresta de abóboras decorativas,
remanescentes da época transacta.
Enquanto escrevo, os noticiários referem – como curiosidade mediática – que desapareceu o
derradeiro golfinho Branco de um dos grandes Rios da China. Não mais, no mundo, golfinhos
brancos.
O excesso de nitratos e os pesticidas acumulados nos terrenos ( foste tu que mandaste analisar
analisar a agua do meu poço ) acabaram com salamandras, sapos e outros bicharocos que precisam
de manter a pele humedecida. De água, claro, não de azoto de síntese e de produtos letais para os
seus corpos frágeis. Os próprios pirilampos (anjos voadores iluminados do meu imaginário de
infância) desapareceram, como os golfinhos brancos dos grandes Rios da China. Sabes que as
próprias minhocas – que pululavam no lodo do sabão-azul dos tanques de lavadeiras- as próprias
minhocas se tornaram raridade? Os “inócuos” detergentes – potentes biocidas – mais dia menos dia
vão também exterminá-las de maneira irreparável?
E que falta fazem as minhocas? E as salamandras e os sapos – se até têm aquele aspecto repelente
que nos leva a cuspir-lhes para cima?
Jovem cientista, lembras-te das minhas“brincadeiras com as placas flutuantes”? Não desisti ainda!
O meu amigo Abílio, dos Canaviais, mecânico de profissão, adoptou-as como método exclusivo de
obter plantas de viveiro. E também de produzir tudo o que se possa imaginar. Até cenouras em
forma de pirâmide.
E um conceituado produtor,alemão, de plantas aquáticas também ele se interessou por saber como
as coisas funcionavam. De resto, mais ninguém!
Retomaria então a credibilidade científica do Nobel da Física:
A ciência não nos ensina nada. O que nos ensina é a experiência.
Eis o que é a ciência: a descoberta de que vale mais verificar tudo através da experiência do que
confiar na experiência transmitida do passado.
A beleza e a maravilha do Mundo tal como as descobrimos através dos resultados de experiências
novas.
Permito-me sugerir-te que aproveites estes últimos dias de férias para conheceres o espírito do
Homem. E como sei que dispões do que julgo seja a a ferramenta indispensável do homem da
ciência: curiosidade crítica, a minha ousadia de te falar de Feynman.
Bom fim de férias para ti e família. Eu continuo de sequeiro, à espera de (re)fazer exame de
Condução

sábado, 4 de agosto de 2007

D D (o Dia Depois)

Exactamente: as coisas resultaram, o homem libertou-se de metade do anátema lançado sobre si,
punindo o esquecimento de renovar a carta aos 65 anos.
E porquê de metade?:- porque ainda lhe falta fazer a prova prática, de condução, que na prática já
vinha exercendo há perto de meio século- sem acidentes dignos de registo.
Mas o Dia D foi mesmo complicado. Já na véspera tinha passado pelo susto de não saber onde tinha
guardado a licença de aprendizagem, isto não é da idade, não é patologia cerebral ou cognitiva, será
qualquer desarranjo genético, inato, que o acompanha desde que tem memória de si mesmo.
Lembra-se, por exemplo, de que no lugarejo onde nasceu – no meio dos 10 ou 12 miúdos da sua
geração era de longe o mais desleixadito. A mãe nunca o deixava sair de casa sem uma inspecção
prévia ao vestuário.
Os outros putos, na sua maioria, cuidavam minimamente o visual. Desde os que se penteavam
cuidadosamente ao espelho, aos que eram capazes de rejeitar uns sapatitos porque os atacadores
estavam esgarçados.
Na tropa – logo nas primeiras horas do primeiro dia de sequestro, o homem viu-se confrontado com
um "enxoval" completo que era necessário acomodar numa caixa de madeira cinzenta, com a altura
precisa do desvão da cama. Escassos 2 ou 3 centímetros de folga do chão à parte inferior do colchão
de arame.
Dois ou três pares de calças grossas, difíceis de dobrar; meia-dúzia de pares de meias brancas
tecidas num fio espesso de algodão; cuecas não sei quantas, de pano, de cor entre o branco e o ocre
- um café com leite deslavado; camisas, praticamente da cor das calças, com bolsos
despropositadamente grandes; bivaques; botas; cinto; um interminável capote: que ao jeito do
homem arrumar a sua roupa era bastante para encher a caixa.
Tudo em lotes, em montes, espalhados pela caserna. Uma espécie de buffet de "atavios", de que o
recruta se servia a seu bel-prazer.
O homem nunca soube escolher. Trate-se da cor das meias ou das idiossincrasias dos amigos.
Aceita a roupa como um resfriado no inverno ou o sucesso ocasional na prova escrita de um exame.
Não prova as calças antes de comprá-las e pagá-las, não cuida de saber se as riscas verdes e
amarelas da camisa não vão brigar com a cor bronzeada de berbere da sua pele.
O homem lembra-se de um fim-de-dia em Lourenço- Marques, a caminho de Esplanada habitual, se
sentir invulgarmente olhado pelos transeuntes. Vestia um casaco branco – estilo colonial – com os
botões abotoados fora da casa respectiva. O que lhe conferia uma torsão do tronco – em que era
difícil alguém não reparar.
Retomando então o fio da estória: o homem ficou à beirinha de chumbar na prova escrita do exame
de condução. Podia, no máximo, errar a colocação de 3 cruzinhas. Sem tirar nem pôr foi as que
errou. Inefável sorte para si. Também podia agora armar em forte e dizer que escolheu errar
exactamente três. Pontaria maluca esta!
O esforço de memória que o país exige a estes pobres candidatos. As Universidades tinham aqui, à
porta dos exames, uma boa fonte de recrutamento de matéria-prima: jovens Caixas de
Supermercado ou vendedoras de cosméticos fora das horas de trabalho; praticantes amadores de
judo , capoeira e outras artes marciais; distribuidores de publicidade porta-a-a-porta – tudo gente
que sabe de memória a velocidade máxima permitida a um veículo pesado de mercadorias, com
reboque, num via destinada à circulação de automóveis e motociclos.
O homem sabe que, aos 68 anos – porque se esqueceu do acto meramente burocrático de revalidar a sua carta de condução – obrigarem-no a procurar na memória uma "caixa cinzenta" onde guardar
todos os atavios teóricos que a rapaziada jovem consegue mais ou menos dobrar e arrumar, o
homem sabe que é sujeito a uma inominável prova de Sadismo.
Senhores legisladores, pelo menos a partir dos 60 anos cuidem de fazer chegar às pessoas
legitimamente habilitadas a conduzir um aviso atempado de que a validade desse documento tem
um prazo de revalidação. Quantos milhares – a nível do país? Uma bagatela, senhores legisladores.
E evitam a monstruosidade de exigir a um avôzinho saber quando um estacionamento é PROIBIDO
ou ABUSIVO. Que eu (espero não anulem o aprovado do meu glorioso dia D) ainda agora estou
longe de Saber. Juro!
E vocês? Sabem?
Abraço especial aos senhores Deputados da Assembleia da Rébública – aos que adreguem ler-me e
acreditem que defender os interesses dos idosos nunca deixará de ser uma causa justa.
Ah, e repetir uma oferta que já fiz no início desta campanha tormentosa: a sério – juro. Se o
ministério que tutela esta matéria não for dotado das verbas necessárias à execução deste programa,
eu-próprio, António Saias, morador de Monte isolado em Igrejinha, cuidarei de vo-lo fazer chegar,
sem custos nem demora: Uma porcaria de um programa informático que lembre os cidadãos idosos,
encartados, de que devem renovar a sua carta no prazo, por exemplo, de 3 meses. Querem mais?
Boas Férias, temperaturas tépidas para amolecimento desses espíritos.

€NSAIO €M €UROS

O pequeno operário da escrita, o aprendiz perpétuo, contrariamente ao mestre, tem que afiar as
palavaras, adorná-las, afagá-las, afeiçoá-las, aparelhá-las- como se diz em vocabulário de
marceneiro. Antes que lhes pegue para as assentar com precisão no que pode chamar-se um pano de
sentido. Que pode ser uma parede ou uma porta, um caixilho de janela ou a gola dum casaco, um
arco gótico ou uma caravela de empedrado à portuguesa
O Mestre não. Pega-as em tosco, às vezes ainda mornas de acabadas de sair do forno, implanta-as
com certeza de cirurgião, quase elas se encarregam de encontrar o seu lugar preciso na construção
que se convencionou que seja o texto. Aquilo que se oferece a quem tenha paciência para ler.
O €NSAIO
€UROS
€´ o que nós todos d€s€jamos alcançar d€ todas as man€iras: banqu€iros; €mpresários;
p€dintes; construtor€s civis;
almocr€ves; barb€iros; trabalhador€s rurais;
prostitutas(os); v€ndedor€s d€ Rua;
€estofador€s, ganhõ€s;
c€st€iros; corr€ctores de Bolsa;
m´€dicos; prof€ssores;
autarcas; tralhoad€iros;
€scritores; €ngomad€iras; políticos; r€formados;
abs€ntistas; abst€mios;
€ncarr€gados d€ €ducação; dir€ctores de turma;
anacor€tas; jornalistas;
ganad€iros; assador€s d€ frangos;
pastor€s de ov€lhas; tractoristas;
alpinistas; operador€s d€ gruas
camionistas; €ngenh€iros de máquinas;
€ducador€s de infância;
t€rap€utas da fala;
€nf€rm€iros; d€s€senhador€s d€ pr´€dios;
jardin€iros; €xplicador€s à hora;
t´€cnicos d€ contas;
alfarrabistas; tintur€iros;
sofistas; iconoclastas;
p€dr€iros; n€o-lib€rais; marxistas;
go€s€s; malaianos;
gr€gos; turcos;
adultos; construtor€s civis; op€rador€s de cãmara;
luminot´€nicos; acupunturistas;
jov€ns; calc€t€iros;
Todos, s€m €xc€pção, à procura d€uros
como s€ os €uros foss€m
salvação.
Silv€str€
– v€- s€ -
– Não
O tal abraço