terça-feira, 29 de maio de 2007

VELHO TONTO EM PAÍS DE CEGOS

Entre os meus quinze e dezoito anos viajava com alguma regularidade à boleia. Pelo menos uma
vez por ano a Coimbra e Santarém – que era onde havia Escolas congéneres à minha, a de Regentes
Agrícolas de Évora, que anualmente promoviam festas, com grandes bailações e comezainas que eu
entendia por bem usufruir. Vão lá já cerca de 50 anos!
Volto agora à boleia, à Estrada, ao estender o polegar da mão direita, com o resto da mão fechada,
um sinal interdito, policialmente interdito, punível, em tempos, com coima de não sei quantos
escudos. Era o tempo das licenças de isqueiro, para protecção da indústria nacional de fósforos, do
pagamento de uma taxa de 5 tostões para fazer necessidades (líquidas) nas instalações sanitárias da
Mata – fronteira ao PalácioD. Manuel.
Bom, volto à boleia, logo pela fresquinha, para cumprir as minhas trinta lições de código ( só espero
que sejam suficientes), mais outras trinta ( o raio do número faz-me lembrar os dinheiros de Judas)
de condução em estrada e espaço urbano – para ficar habilitado, com sucesso duvidoso, a fazer o
que já faço, sem acidentes de percurso, há precisamente os tais 50 anos.
Velho, de cabelos brancos, normalmente desalinhados pelo vento, mala de cabedal às costas,
sobraçando, como puto imberbe a frequentar o “ciclo”, não a perversa e tonta mochila a abarrotar de
livros, o módico (230 páginas apenas) exemplar do Código da Estrada. Da autoria do senhor
AntónioAlves Costa, que prima, escreva-se em abono da verdade, pela excelente qualidade literária.
O voltar – por imposição legal, que julgo no mínimo ignóbil – ao contacto com as leis ( abomino o
étimo como o cheiro intenso e gorduroso a queijo), aos sinais: verticais; marcas rodoviárias;
sinais luminosos; sinalização temporária; sinais dos agentes reguladores de trânsito; sinais dos
condutores .... ocorre-me, no capítulo dos sinais luminosos, a minha velha ( há quantos anos venho
massacrando o meu leitor com esta estória!) ideia de que seria de grande utilidade um sinal
luminoso, intuitivamente azul, que indicasse, de forma inequívoca, a minha intenção de estacionar.
O condutor que me precede ficaria obrigado a conceder-me espaço de manobra para realizar a
operação sem qualquer risco.
Ora bem, o voltar ao Código (brrrrr!) traz à superfície a velha ideia, que retomo e trato de expor a
tudo e toda a gente que me pareça vocacionado para lhe prestar um mínimo de atenção. Ao já citado
autor do livro de leis de trânsito, nomeadamente, que, pela tardança na resposta, deve estar ainda a
digerir a minha insólita exposição:
é um cérebro destes, do deserto alentejano, que vai segregar um sinal novo, não contemplado
ainda no Código adoptado à escala Universal -tomo a liberdade de pensar!
Volta a responder-me ( em rigoroso exclusivo) uma entidade de Évora, que ouso recomendar a todo
o Alentejo que sabe que inovar não é só construir telescópios ou aeronaves espaciais. Uma tal de
GAPI – que funciona junto da Universidade de Évora – que se disponibiliza, sem nenhuns encargos,
a prestar-lhe valiosos apoios nos seus “arroubos” criativos.
Para me esclarecer – obrigado, senhores, pelo Vosso atestado de sanidade mental – que a minha
velha e querida ideia já tinha sido patenteada. Por um tal senhor SIRJACOBS (cheira-me a judeu)
MICHEL, e KIM JONG JAE ( sem dúvida asiático) , em favor de SSANGYONG MOTOR CO
LTD.
Do meu inglês de praia, contemporâneo da fase juvenil de me deslocar pelo método “boleia”, vou
tentar dar-Vos uma pálida tradução das habilidades propostas pelo invento:
sinalização luminosa, que pode ser ou não multicor, fixa ou móvel, colocada na traseira, no
interior ou exterior do veículo, para indicar ou avisar, piscando alternada ou intermitentemente,
outros condutores da intenção de efectuar uma marcha-atrás ou manobra de estacionamento.
Falta ao invento patenteado definir a côr – que sugiro, intuitivamente, AZUL
Julgo- agora já nem sei – que foi ao próprio autor do Código da Estrada que propus trabalhasse a
ideia junto, por exemplo, da Auto-Europa . O destinatário da minha exposição deve estar ainda a
partir a moca a rir. Ou a mostrar aos filhos e parentes, num serão divertido, que o país não avança
porque está cheio de “malucos” como este.
Leitor amigo, não se assuste – que não vou dizer o palavrão.
Abraço para si
desencartado António Saias

Um comentário:

JR disse...

Não me leve a mal mas não concordo com a cor. E a culpa não é dela, porque até é a cor do meu Juventude de Évora.
Também não tenho nada contra o Belenenses, de que o meu amigo é adepto e, talvez só por isso tenha optado por ela.
Mas o azul confunde-se à distância com sinal das viaturas policiais, que julgo não lhe ter ocorrido.
O azul tende com o tempo a perder tonalidade e a ficar branco, confundindo-se eventualmente com as luzes de marcha atrás.
Mas, azul ou doutra cor, acho que existe razão de sobra para a utilização dum sinal que roube oportunismo a alguns chico-espertos e evite problemas no estacionamento.
Um abraço