terça-feira, 21 de agosto de 2007

ETOLOGIA DE NOVO

1 – já explicámos: é uma ciência, relativamente jovem, que estuda o comportamento dos animais, as
suas estratégias de adaptação ao meio, as piruetas que têm que fazer quando as coisas lhes correm
de maneira menos favorável. Uma das teorias da origem da vida sobre a Terra aponta para que tudo
tenha começado (a vida) na e com a água. Até chegar a nós, homens, imagine-se as adaptações que
os nossos avozinhos tiveram que fazer.
A não ser que se acredite – como fazem crer as teorias criacionistas tão em voga – que os pais
destes seis mil e tal milhões de bípedes falantes tivessem sido mesmo os bíblicos Adão e Eva, com
uma estória de serpente e maçã metida pelo meio.
Um respeitável cientista barbudo, chamado Darwin, é que em princípios do século passado deu à
luz uma teoria revolucionária que desmentia que Deus tivesse feito as coisas – vivas sobretudo – tal
qual as conhecemos hoje: as lagartixas nem sempre foram lagartixas, os perús podem muito bem ser
o que sobrou de certos dinossauros.
Enfiou-se num barco – modernaço para a época, embora sem requintes de conforto, e segurança,
que hoje têm essas metrópoles flutuantes- e navegou até Galápagos e outros lugares remotos onde a
vida não foi muito influenciada pelo homem, recolhendo fósseis e observando, ao vivo, exemplares
de “calça arregaçada” da evolução.
Trouxe para a Europa caixotes cheios de provas irrefutáveis da teoria que acabava de criar, e
lançou-se a proferir conferências e palestras nas Universidades, explicando por A+B que o homem
nem sempre foi o gentleman inglês de chapéu de côco e de monóculo, assistindo em Londres aos
dramas de Shakpsear, bem pelo contrário: nasceu na selva tropical e aí cresceu a saltitar de galho
em galho, até ser expulso para a estepe – onde teve que adaptar-se a perseguir a caça para se
alimentar, a fazer-se entender para combinar estratégias de defesa, quando não de ataque ao
inimigo.
Isto, estas explicações do barbudo cientista senhor Darwin, até pareciam de aceitação universal, até
que surgem reacções “bem financiadas” que vêm dizer que não senhor: Deus fez Adão e Eva, e daí
nasceu a Humanidade – do João Vieira Pinto e da Florbela Queiróz a Pinto da Costa e ao advogado
Vale e Azevedo. Ou ao senhor Sousa Cintra – que este ano fez a abertura da caça à rolas e afirma
que havia muito poucas.
O que tem isto a ver com a Etologia do título da estória – perguntará o meu leitor já regressado de
merecidas férias? : Com as estratégias de que os bichos são capazes – o tal struggle for life (luta
pela sobrevivência) dos mais fracos para se defenderem dos possantes e dominadores.
A estória é-me contada pelo veterano senhor Ramos, no Éden de Moura, na esteira da pergunta que
lhe fiz sobre um Carro de transporte de água que decora o magnífico Jardim
– Era dos Bombeiros, para o combate aos fogos?
– Não senhor, era da Câmara e servia para lavar as Ruas. Eu comprei um parecido há pouco tempo
em S. Matias. Com rodas de borracha. Para levar a água para as vacas. Eu já não quero saber
daquilo. Entreguei ao meu neto. Os meus 82 anos já não dão para muitas aventuras.
– Continuo a dar-lhe alguns conselhos. São 60 vacas, e veja que o rapaz se lembrou de lhes soltar 3
touros. Vê bem que não pode ser assim, rapaz, há um touro agora, mais forte, que dá porrada nos
outros dois e não os deixa cobrir as vacas. Sabes o que vai acontecer?: quando chegar a
Primavera, e eles se sentirem com força suficiente, vão-se a ele, um à corna, para o entreter, e o
outro vem por trás e espeta-lhe os cornos na barriga. Mata-O !
É o mesmo que acontece com os homens – concretizou ti Ramos – vossemecê não sabe? : há
sempre um galifão que dá porrada em toda a gente. Até que um dia, na Taberna, os ânimos
aquecem, e lá se vai a fanfarronice na ponta duma navalha “ponto-e-mola”!!!!
Ti Ramos, se calhar sem dar por isso, acabava de me presentear com uma eloquente lição de ETOLOGIA.
Por aqui nos ficámos – eu com a consciência plena de que já ganhara o dia
Ainda calor(oso) abraço

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