segunda-feira, 27 de agosto de 2007

OS CASTANHEIROS DOS CANAVIAIS

Decorre não sei quando, hoje, 27, amanhã – não sei – uma visita julgo que parlamentar aos
trabalhos de reflorestação da Serra de Ossa. Não sei como vão fazer, não percebo nada disso,
embora regente-agrícola de raíz ( como se diz na bola) sei que é matéria da exclusiva competência
da silvicultura e ciências afins. Vão reeucaliptar aquela paisagem tão bonita, tão quase original,
como a de que sobram trechos em torno do velho Convento convertido em Unidade Hoteleira?
Substitir os eucliptos – dominantes – por pinheiros, não menos rentáveis mas igualmente
descaracterizadores e inimigos do escosistema primitivo?: sobreiros e azinheiras, medronheiros,
sargaços, rosmaninho, fetos nos lugares humidos e protegidos pela sombra, zonas pantanosas com
juncos e anfíbios, ninhos de perdiz, "loiras" de coelhos, ninhos de melros pelos silvados, rouxinóis
alegrando as noites quentes e paradas de Verão?
Eucaliptos e pinheiros – já viram – por favor, mais não! Os senhores da celulose, das acções na
Bolsa, essas sim de crecimento acelerado, vão fazer dinheiro para outro lado. Deixem a magnífica
fonte de água cristalina, à beirinha da Estrada, retomar o seu velho murmúrio que refrescava o corpo
e alma de quem adregava cruzar aquelas estradas.
Desconheço, portanto, o plano de reflorestamento da mítica e outrora tão rica Serra d´Ossa. E,
repito, não percebo nada disso.
Ocorre-me, contudo, que o desaire recente recomendasse o retorno aos Quercus – sobreiros,
carvalhos, azinheiras – e mesmo a culturas aparentemente não adaptadas às condições
edafoecológicas da zona. Retomaria aqui – só para lhe conferir um mínimo de credibilidade – uma
ideia que li neste mesmo periódico sobre um velho projecto, adiado, de instalar naquela Serra uma
plantação industrial de CASTANHEIROS.
Ora bem, ontem mesmo visitei uma pequena plantação de árvores desta espécie (½ ha) – nas
condições mais adversas que é possível imaginar para o seu natural desenvolvimento:
solos de classe D, sem aptidão agrícola; com afloramentos de granito; pouca água para rega.
Segundo o seu actual proprietário, são regados uma vez por semana.
A pequena plantação fica nos Canaviais, como se escreveu em título, na Quinta do Lagarto, lote 35 .
É bem visível da Estrada o estado exuberante das plantas, carregadas de "ouriços" – a cerca de dois
meses ainda da plena maturação dos frutos.
Falando com o proprietário, soube que a produção é muito irregular – plantas que produzem frutos
grados, comerciáveis, ao lado de outros de muita produção mas de frutos de tamanho reduzido.
As plantas foram obtidas a partir de semente, comprada na altura em plena Praça do Giraldo, nos
habituais vendedores de castanhas que dão cor e cheiro ao histórico local.
Terão cerca de dez anos, não foram enxertadas, são, por assim dizer, um capricho da própria
natureza. Quem as plantou é um lunático ( espero que o homenzinho não me esteja a ler neste
momento) um nefelibata – como se dizia em grego antigo- alguém que anda nas nuvens. E o
proprietário actual, que tive o prazer de conhecer e com quem conversar, olhe que o senhor também
– deixe que lhe diga. Falou-me em ir instalar rega subterrânea na parcela. Para os castanheiros? Só
devem dar-lhe prejuizo. Lindos na verdade, uma autêntica delícia para os olhos, mas o resto?
Senti-me orgulhoso pelo homenzinho que se lembrou de plantar os castanheiros. E pelo
proprietário- que se dá ao trabalho de se deslocar para os regar uma vez por semana.
E ocorre-me sugerir aos Serviços Regonais de Agricultura, à Universidade, aos projectistas do
reflorestamento da antiga formosa Serra d´Ossa – uma visita atenta a esta pequena "exploração".
Talvez pudessem colher ali ensinamentos sobre o comportamento destas plantas – em condições
edafoecológicas naturalmente bem mais favoráveis do que as destes solos esqueléticos e secos dos
Canaviais.
E, por que não, instalar desde já não a plantação industrial em tempos projectada – duas ou três
parcelas, a título experimental, na desflorestada Serra d´Ossa.
Se por acaso estiverem interessados, até posso apresentar-Vos o lunático, o nefelibata que se
lembrou de plantar CASTANHEIROS nos Canaviais. É pessoa chegada!
Cumprimentos e abraços a Vós todos
António Saias

Um comentário:

FM disse...

Uma boa parte da agora tão falada e visitada Serra d'Ossa, dadas as suas características, bem poderia ser transformada num verdadeiro "laboratório" ao ar livre, não apenas no âmbito da silvicultura, mas também de outras áreas do conhecimento.
Todos ganharíamos com isso.
Ideias há, certamente. Interesses vários, também.
Resta-nos aguardar para ver o resultado final.