sexta-feira, 17 de agosto de 2007

INSTRUÇÕES PRIMÁRIAS
MANHÃ – SÁBADO – ESTREMOZ
Conheço Estremoz desde miúdo. Talvez desde ter consciência de existir. O pai tinha sempre boas
parelhas de mulas, que engatava num carro bem estimado e oleado por ocasião da Feira de
Santiágua, onde carregava a família e não sei quantos cabazes de alimentos cozinhados que
bastassem aos dois dias que durava a Feira.
O itinerário obrigatório era o seguinte: Almadafe – Monte da Guarita – Casa-branca – Cano –
Romeiras – Santa Vitória do Ameixial – Estremoz.
Família: pai e mãe nos lugares da frente; a avó ( a matriarca ti Maria da Barroca) ; o mano e eu –
separados por dez anos de diferença-um de cada lado da avó; a prima Joaquina, que era uma espécie
de despenseira da barulhenta caravana – todos acomodados em mochos de madeira de choupo com
assento em bunho.
Cuidadosamente arrumados entre os mochos, nas traseiras do carro, os cabazes da comida – também
eles organizados por uma ordem cronológica de utilização: o corpulento galo de tomatada, o pão, os
paios, mais a palamenta necessária às refeições – num cabaz volumoso praticamente inacessível - ; à
mão-de-semear, num cesto de verga menos recatado, bolos de toda a espécie – dos bolinhos de areia
ao fofo pão-de-ló – para consumo ao longo das cerca de 3 horas de viagem. Com licores também
diversos, de fabrico caseiro, atraentes não só pelos aromas como pelas cores variegadas e apelativas.
Arrancava a bem-disposta caravana antes ainda do raiar da aurora, com as estrelas quase todas bem
visíveis e os galos amadorrados nos poleiros, acordados mais cedo pelo ladrar dos cães e pelo
alvoroço inusitado das pessoas. Disparavam a cantar em tempo prematuro, se bem calhar mais para
contestar a algazarra do que para despertar quem nitidamente já o estava.
Breve introdução ao relato, também curto, do meu último Sábado em Estremoz. Não já em carro de
mulas nem do Almadafe, mas num confortável automóvel familiar; e não do Monte da Guarita mas
de uma igualmente periférica Quinta Nova.
Por volta das dez horas, o Rossio de Estremoz é um mercado. Um Bazar enorme a céu aberto, uma
paleta viva de cores, aromas, vozes, nozes, negócios, azeitonas, tangerinas (como em Tânger), redes
com ninhadas de coelhos – à semelhança de Xangai ou de Hong-Kong – fumo do azeite de fritar
farturas, o latido de um cão pisado de maneira ocasional, quinquilharias, bugigangas, abóboras do
tamanho de meninos, mogangos enrolados como trombones de orquestra regional, ervas de cheiros,
temperos, sálvia, orégãos, tomilho, pássaros de gaiola, pintos, patos, résteas de alhos, tranças de
cebolas, eflúvios de aromas de temperos das azeitonas: louro, limão, orégãos, tomilho, mangerona;
vozes, muitas vozes de pessoas que trocam cumprimentos, permutam novidades, contam estórias, o
Rossio de Estremoz aos Sábados é um autêntico Bazar.
Mas a ida a Estremoz, neste Sábado de Agosto, tinha fundamentalmente em vista visitar o antigo
Convento das Maltesas. E o Centro de Ciência Viva, do Polo local da Universidade de Évora, com o
seu estendal de coisas maravilhosas da Ciência – para ver, mexer, e entender. Que pena não
poderem deslocar-se à Feira e aos mercados semanais para mostrar àquela gente como funcionam os
Vulcões, como evoluiu a Terra desde o seu grande Continente único até aos dias de hoje –
ameaçada de colapso. Exibir em público o monstruoso esqueleto dinossáurico ou permitir aos
curiosos mercadores medirem a radioactividade dos calhaus trazidos lá do Monte!
Não sei por quem tenho o privilégio de ser lido. Nem, dos que me lêem, os que são capazes de
seguir a mais simples das minhas sugestões. Arrisco, contudo, lançar aqui, aos meus eventuais
leitores, a dupla sugestão:
visitar e fazer compras no Mercado de Sábado de Estremoz; maravilhar-se com o grande Circo que
é a Exposição permanente de Ciência, logo ali à mão – no parcialmente recuperado Convento das
Maltesas. Se é capaz de se encantar com um, não deixará de se maravilhar com a grandiosidade que lhe proporciona o outro. Eu fui acompanhado/dirigido pelo jovem cientista Pedro. Suponho que os
outros seus colegas estarão tão aptos quanto ele a explicar-nos o percurso sinuoso que nos levou das
Cavernas e das Grutas do Escoural ao Bazar dos Sábados em Estremoz. Mesmo assim, que os
outros me desculpem, não deixaria de recomendar o Pedro.
Abraços para todos

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