sábado, 30 de junho de 2007

CON VERSA TELEFÓNICA:

- Eu estou a falar com o senhor António Saias?

- está, sim, minha senhora – é o próprio

- fala maria Cristina, duma empresa de sondagens telefónicas, tenho, para lhe oferecer, 400 euros em dinheiro e um electrodoméstico…..

- Não diga mais, minha senhora, estou sem carta de condução, não poderia deslocar-me onde quer que fosse para receber o prémio….

- mas eu mandei-o ir a alguma parte?....senhor antónio

- não, minha senhora, não me mandou ir a nenhuma parte.

Se me tivesse mandado já lhe tinha desligado o telefone….

Maria Cristina – duma empresa de sondagens telefónicas – nem chegou a proferir o clássico muito obrigada, senhor António, estou a desejar-lhe….

Desligou de imediato o telefone

sexta-feira, 29 de junho de 2007

Quadra

O Cavaco é presidente

O Sócrates 1º. Ministro

O povinho que os sustente

Nam querem lá ver isto !!!

Quadra

O Cavaco é presidente

O Sócrates 1º. Menistro

O povinho que os sustente

Nam querem lá ver isto !!!

terça-feira, 26 de junho de 2007

BLOGANDO & ANDANDO

Claro que continuo a falar de mim. José Gomes Ferreira escreveu um livro – que li há mais de 30
anos – com o subtítulo: Ou o gosto de falar de mim-mesmo.
Há mais de trinta anos... É bestial! Há mais tempo do que a idade dessa rapaziada toda gira que anda
por aí pelas esplanadas, a passear a Feira de S.João, a comemorar seu fim-de-curso, a sonhar
namoradas à sombra rendilhada de buganvílias enluaradas, a crer que é bem capaz de mudar o
mundo, a escrever poemas e a inventar estruturas de moléculas, bestial – há mais de trinta anos!
Estou como se estivesse enfermo. Amigos finalmente vêm visitar-me, o Quim e a Manela cuidaram
de se fazer acompanhar de um pão e um paio de porco preto alentejano, o Zé e a Teresa – que não
via há tanto tempo- trouxeram-me uma magnífica garrafa J B, de quantos anos eu nem sei, o Carlostambém
conhecido e amigo desde as brumas da memória - contemplou-me com um leitor de vídeos
e uma mala cheia de filmes que vão da Ciència pura à mais descabelada pornografia.
Por ordem: A Manela tinha sido operada às cataratas há dois dias. É uma mulher bonita, ecologista,
progressista, fã da reciclagem e da igualdade de oportunidades para toda a gente em todo o Mundo.
Foi ela que me deu o Francis, sepultado aqui no meio do milho – talvez no dia em que a sua velha
dona foi operada às cataratas. Coincidência?
O Quim é um velhíssimo amigo- ainda dos tempos da Quinta de Saragoça- de quando queriam
proibi-lo de levar o carro até à minha porta. Tempos quentes da Revolução de Abril, de quando ele e
eu acreditávamos na Reforma Agrária, no ensino gratuito para todos, na educação universal
obrigatória, nos Bairros operários, na promoção dos mais desfavorecidos...Agora é só ele que
acredita ainda em tudo isso. Eu, infelizmente, troquei a ideologia pelo cheiro morno, sexual, do
casqueiro do Escoural e do paio de porco preto de Barrancos.
Bebemos uns razoáveis tintos de tendência já globalizante – dos que vêm em caixinhas cúbicas
como antigamente as talochas e os pregos das Fábricas do Norte para as drogarias.
O Zé e a Teresa. Ele é um bom poeta. Escreve também sobre o vinho tinto, ramos de oliveira
pendendo sobre muros caiados.
Vieram trazer-me o JB – tiveram que abrir e franquear dois portões de arame farpado, foi,
naturalmente a Teresa quem esteve de serviço, retribui oferecendo-lhes um bonito exemplar de
Príncipe Negro que tinha abacelado no Outono – com rosas já abertas e botões em vias disso.
Abalaram à pressa, que têm os dois a vida muito preenchida. Desobriguei-os de fecharem os portões
– eu próprio me encarregaria disso quando fosse de bicicleta à Igrejinha por tabaco e por avistar-me
com pessoas.
E assim aconteceu. Só que, no regresso, não fechei convenientemente o último portão, o mais
próximo de casa, e quando me levantei hoje, antes das 8 da manhã, a primeira coisa que avistei foi
um enormíssimo rebanho de vacas a espezinhar o milho do vizinho e passeando descontraidamente
junto ao Monte, em frente das janelas. Bolas, ia colapsando: há mais de quinze dias os portões
fechados – sem vacas a pastar - logo na primeira oportunidade em que ponho menos cuidado na
tarefa, se lembraram de inaugurar a pastagem nessa cerca!
Corri à rua, esbaforido como se fosse apagar incêndio, maratonei pelo milho dentro tentando cercar
e arrebanhar ( ganhei a origem etimológica da palavra: juntar ao rebanho) arrebanhar as talvez 50
vacas que se tinham escapulido...qual quê! Gritei, peguei pedras e atirei, tentei assobiar como o
pastor, ladrar como cão de guarda – tudo em vão. As vacas espalhavam-se pelo milho numa orgia de
destruição e divertimento.
Mesmo rigorosamente proibido de conduzir – subi no carro, que mal já sei manipular- e saí
disparado emquem permitiu a trágica evasão. Ele, sim, vem acompanhado de dois magníficos exemplares
caninos- pastores alemães enxertados de rafeiros, contudo belos, meigos/agressivos, nervosos,
armadilhados à espera de ordens do seu dono.
Vai juntar os cerca de 200 animais que recusaram evadir-se: mães lustrosas, gordas, barulhentas,
chamando os filhos em urros lancinantes, correndo em direcção ao porto que só elas, os cães e o
pastor conhecem na Ribeira. Levantam pó por sobre a várzea, como os gnus dos filmes das reservas
africanas, ou os as cenas de cow-boys nas pradarias da América.
Só se veêm os cães quando saltam por cima da pastagem seca que os envolve, naufragos aflitos que
de vez em quando emergem das ondas alterosas. O pastor, ao longe, cada vez mais distante, é já um
matraquilho diluido na paisagem – sabemos que ele existe pelos gritos ritmados que vai lançando
em direcção às vacas.
Ligo-lhe, pelo telemóvel, passadas talvez umas duas horas, para saber em que resultou a
movimentada operação. Que sim, que o problema desta vez já estava resolvido: As vacas evadidas,
espalhadas pelo milho ou dispersas pela paisagem, estavam finalmente arrebanhadas.
Quanto ao Carlos – para não maçar em demasia o meu leitor – guardarei para próxima edição. Não,
contudo, sem dizer que não um mas três foram os leitores de vídeo que me trouxe, e mesmo assim
nada fácil seleccionar o que em condições de qualidade mínima conseguisse reproduzir o malão de
Ciência e pornografia que me encheu a casa dos arrumos.
Velhos aparelhos cheios de manhas e de truques, semelhando peças de museu – do tempo do
animatógrafo- de cujas ligações eléctricas e electrónicas complexas esperei ainda ver explodir o
meu também vetusto aparelho de televisão. Faíscas e coriscos breves vi eu ainda na penumbra da
sala mal iluminada! Mas não, tudo acabou em paz. E disso darei conta quando este pobre coração
ganhar a necessária estabilidade.
Abraços ou beijinhos – conforme quem tiver a paciência de me ler busca do pastor. E o pastor chegou, entre pragas contra as vacas e imprecações contra

segunda-feira, 25 de junho de 2007

M E T A F Í S I C A ( no intervalo duma aula de condução )

Há muito mais metafísica
em chupar caracóis
do que na burguesa pessoana prática
de comer
chocolates
chocolates são uma coisa lisa
plana
geométrica
euclidiana
em que predominam rectas
planos pontos
ângulos
quadrados ou rectângulos
que destacamos com os dedos
com estalinhos secos
que nunca distinguimos
se são do quebrar dos chocolates
se dos próprios dedos
5º. postulado de euclides:
“se uma linha recta
cai em duas linhas rectas....”
aí está o chocolate. Euclides
há dois mil e trezentos anos inventou a fórmula
da forma chocolatiana.
Que metafísica pode haver
na forma física
duma tablette?
Já com os caracóis
assim não acontece
começa porque não são lisos
planos
chatos – como os chocolates.
São helicoidais
a um produtor de chocolates chama-se friamente
um industrial
Chocolateiro? Já viram bem?
Um produtor de caracóis
designa-searistocraticamente
por helicicultor!
A geometria da estrutura
cálcica do caracol
é não-euclidiana:
elíptica talvez
ou hiperbólica
Não tanto da área de Pitágoras:
num triângulo rectângulo....
apelando mais
à utilização de PI
onde pois
a maior concentração
de metafísica?
E mais:
você come um chocolate
e o que sobra?:
uma prata amarrotada como um lenço de papel
(acabado de assoar)
uma estúpida paisagem
dos Alpes da Suiça
com uma vaca azul
de manchas brancas
pelo contrário
e a questão aqui já é da própria Física -
você suga
os caracóis contidos num pequeno prato
e os despojos
já não vão caber
num pratinho exactamente igual
que lhe puseram
ao lado do copo de cerveja
Porquê?
Parece legítimo perguntar
e entraríamos então
nos domínios de Arquimedes:
que é uma mistura
de Euclides
e Aristóteles, entende?
Onde, pois,
mais metafísica?:
em comer avidamente chocolates
ou chupar
tranquilamente
caracóis?
Para não falar
da clitoriana
textura
do molusco
Antonio Saias

sexta-feira, 22 de junho de 2007

MENOR DIVISOR COMUM (variações sobre a noção de...)

BEM-COMUM
só há um
– o teu e
– mais nenhum
BEM – COMUM
primeiro TU
depois TU
depois ainda TU
por fim o Bem-Comum
sem esquecer que
TU
és UM
estando assim contido (ainda)
em
Bem-Comum

quinta-feira, 21 de junho de 2007

DECÁLOGO DO AUTOMOBILISTA

Sua Santidade o Papa e o Vaticano desconhecem em absoluto, não duvido, o mau transe por que
passa este anónimo automobilista Igrejinhense – privado do seu título de condução pelo secular
pecadilho de se ter esquecido de proceder à renovação do referido documento. Tanto assim que o
não refere entre os recém-publicados Dez Mandamentos do Automobilista – divulgados hoje
mesmo, vésperas de Verão de 2007, por alto dignitário da hierarquia do poderoso aparelho espiritual
herdado de S.Pedro.
Colado ao já conhecido decálogo recolhido directamente de Deus pela venerável figura de Moisés –
quando os meios de transporte não iam além do burro e da carroça – entende o Vaticano, e em nosso
entender muito a propósito, dar a conhecer Urbi et Orbis, o que entende poder contribuir, de
maneira decisiva, para o estancamento da escandalosa carnificina que acontece na teia mundial de
estradas e caminhos. Mais de um milhão de vidas ceifadas anualmente no asfalto das amplas
autoestradas ou na poeira das exíguas picadas africanas. Tirando a Fome- que compete em número
de vítimas com este flagelo maioritariamente tecnológico- não conhecemos outro, com carácter
permanente, que se aproxime deste número funesto. As Guerras? Sei lá, não tenho números: 3
milhões no Vietnam? 30 milhões entre União Soviética e Alemanha – na última Guerra Mundial?
Tudo bem!
Mas a sangria rodoviária a que se assiste é que não tem precedentes na já longa história da
humanidade. Números redondos – só neste rectangulozinho ajardinado, em processo acelerado de
estepização, desaparecem, na vertigem da velocidade, mais de mil vidas só num ano.
Estabelece o novo decálogo católico alguns preceitos, dirigidos a praticantes e simpatizantes, que o
atropêlo com que foram divulgados pelas nossas televisões – a par do insipiente(meu) domínio do
italiano – não me foi permitido assimilar mais do que três princípios rudimentares do pontífico
documento:
1 – Primeiro Mandamento: Não matarás. Muito bem, digo eu, fotocópia, dos originais – aqui
manifestamente sem intervenção divina. O primeiro com vista a obviar às guerras – ao tempo
limitadas à tática do cerco, à espada, à lança, ao chuço, à funda, à catapulta...
O segundo – pontifício, dado hoje a conhacer – apelando ao estrito cumprimento das mais
elementares regras do Código de Estrada.
2 – Não cobiçar a mulher do próximo, julgo eu, cuja versão de prevenção da sinistralidade
rodoviária aponta, sugere, incita a que não se utilize a viatura automóvel como sede, mesmo que
temporária, incómoda, precária, da velha e condenada prática da luxúria. Para já não falar da muito
grave contra-ordenção que é o pecado de adultério.
3 – Não por ordem, naturalmente, porque ainda falta o "não roubarás", e outros – mais
dirigido,estou em crer, ao larápio da especialidade do que ao próprio condutor – vem um
mandamento verdadeiramente idiossincrático, que cumpri-lo, pelo Código de Estradas nacional
bastaria a reprovação imediata de qualquer examinado:
– qualquer condutor deve persignar-se antes de pôr o motor a funcionar.
Sei é que – para concluir – do que consegui respigar entre duas garfadas de batatas fritas e o
ronronar da Christie por um pedaço de gordura das abas da bifana – nem a mais leve alusão a crime,
contravenção, pecado contra alguém (não muito novo e secular) ex-condutor – por se ter esquecido
de renovar a negregada carta
Desautomobilizado seu
antónio saias

terça-feira, 19 de junho de 2007

MORREU O FRANCIS

(Não sei se com esta prosa vou ganhando alguns amigos. Sei é que já perdi quase todos os que
tinha)
Francis era um cão. De Silvestre – lembra-se? O cão de Silvestre. Parecidíssimo com ele: guedelha
longa; raça indefinida; malcuidado; ladrava só para cumprimentar.
Uma semana de agonia, assistido in-extremis por veterinário amigo, mesmo assim não resistiu.
Acompanhava-me ao correio para recolher diariamente o jornal, e pouco mais, aventurava-se no
asfalto, e aí brigávamos: não sabes que esses gajos dos automóveis são malucos?... venha já
práqui-ralhava.
Seguia-me pela estrada, nesta mau transe de ter que deslocar-me duas vezes por dia a Arraiolos,para
assistir às aulas de condução (bem feita -para não seres esquecido!) e regressava a corta-mato –
depois de muita peroração sobre os perigos do asfalto.
Tinha-me sido dado pela Manuela há três? há quatro anos?, admito até que já estaria entrado na
idade. E depois era assim: Não foi vacinado uma só vez. Nem desparasitado, nem sujeito a nenhum
desses cuidados básicos que os donos de animais jamais descuram. O Francis era como eu. Como
Silvestre, se quiserem.
Com os gatos acontece a mesma coisa. Ração e água, com uma festinha pelo pêlo quando adregam
estar por perto.
Nascem, crescem, multiplicam-se aos caprichos das luas e do tempo, sem intervenções de vulto pela
parte que me toca. Um, da última ninhada, viajou agora no motor do jipe de uma amiga, na distância
de uma boa dezena de quilómetros.
A morte do Francis levou-me a algumas reflexões: é justo que eu adopte os animais – para depois
os tratar tão descuidadamente? Com a Christhie- você lembra-se – foi diferente: amputação da
pata, cerca de 200 euros de despesa, algumas deslocações à Mitra.
Não serei eu assim em tudo? Com os filhos, os amigos, a família...? Acaso sei quando fazem anos?
Acaso telefono – para além do trivial “estás bom? Como vão as coisas por aí?”
O cidadão-comum tem uma agenda. Com uma infinidade de contactos, de registos, de informações.
A Telma e o Ricardo fazem agora anos de casados. A tia Catarina foi operada à hérnia há quinze
dias. O pai do motorista caiu da escada que dá para o sótão – não esquecer telefonar. Mandar
flores à Professora de violoncelo do miúdo. Tem sido encantadora pro rapaz....
O que se passa com os meus amigos, para além da incúria com que trato os bicharocos, torna-se
mais grave porque tenho o vício de me expor publicamente através destes gatafunhos que vou
espalhando por aí. E os meus (poucos) amigos interpretam, por vezes, estou convencido disso, mal
aquilo que escrevo. Ou os amigos desses meus amigos os massacram com leituras enviesadas
e fora de contexto:
Vê que até vos comparou aos gatos e aos cães, são vocês amigos deste gajo?
Vou mesmo ter que reflectir sobre esta indisfarçável anomia social. Sob pena de não ter, um dia
destes, alguém a quem dirigir uma palavra.
A não ser! Há sempre um “a não ser”! - que resolva copiar a atitude daquela linda senhora de
Arraiolos, talvez dos seus setenta anos, que há dois dias me dizia:
estou a cumprimentá-lo. Talvez o senhor não me conheça. Mas eu vejo-o por aqui, somos da
mesma Terra, por que razão não havemos de falar?
De qualquer modo, é necessário, é urgente que reflicta. Porque a falha há-de ser seguramente minha.
Abraços para todos. Sim, mesmo para si. Quem sabe um dia não lhe digo: estou a cumprimentálo....
António Saias

M E T A F Í S I C A

( no intervalo duma aula de condução )
há muito mais metafísica
em chupar caracóis
do que na burguesa pessoana prática
de comer
chocolates
chocolates são uma coisa lisa
plana
geométrica
euclidiana
em que predominam rectas
planos pontos
ângulos
quadrados ou rectângulos
que destacamos com os dedos
com estalinhos secos
que nunca distinguimos
se são do quebrar dos chocolates
se dos próprios dedos
5º. postulado de euclides:
“se uma linha recta
cai em duas linhas rectas....”
aí está o chocolate. Euclides
há dois mil e trezentos anos inventou a fórmula
da forma chocolatiana.
Que metafísica pode haver
na forma física
duma tablette?
Já com os caracóis
assim não acontece
começa porque não são lisos
planos
chatos – como os chocolates.
São helicoidais
a um produtor de chocolates chama-se friamente
um industrial
Chocolateiro? Já viram bem?
Um produtor de caracóis
designa-se
aristocraticamente
por helicicultor!
A geometria da estrutura
cálcica do caracol
é não-euclidiana:
elíptica talvez
ou hiperbólica
onde pois
a maior concentração
de metafísica?
E mais:
você come um chocolate
e o que sobra?:
uma prata amarrotada como um lenço de papel
uma estúpida paisagem
dos Alpes da Suiça
com uma vaca azul
de manchas brancas
pelo contrário
– e a questão aqui já é da própria Física -
– você suga
– os caracóis contidos num pequeno prato
e os despojos
já não vão caber
num pratinho exactamente igual
que lhe puseram
ao lado do copo de cerveja
Porquê?
Parece legítimo perguntar
e entraríamos então
já nos domínios de Arquimedes:
que é uma mistura
de Euclides
e Aristóteles, entende?
Onde, pois,
mais metafísica?:
em comer avidamente chocolates
ou chupar
tranquilamente
caracóis?

sexta-feira, 15 de junho de 2007

António Saias a cores

ONANISMO ( ou violação?) DA MEMÓRIA

Para quem não saiba – e não queira dar-se ao trabalho de consultar um dicionário- adiantarei que o
palavrão é sinónimo de masturbação ou outra coisa mais vernácula que um mínimo de pudor me
impede de escrever. Mas é isso mesmo. Leia então- como se estivesse lá escarrapachado.
Violação – em alternativa – porque empinar o Código da Estrada, sob pena de se ver
desautomibilizado toda a vida, não deixa de ser um estupro, uma verdadeira profanação da memória
das pessoas.
Antes disso, porém, uma ciciada confidência. Promete-me segredo? Aí vai então:
Fui eu, António Saias, morador na Quinta Nova, à beira da Ribeira do Divor...nem sei se diga – é
que é duma responsabilidade muito grande. Pensei longamente no assunto enquanto me dedicava a
arrancar os alhos e a contemplar o desenvolvimento exuberante dos tomateiros e dos pimentoeiros.
Chuva alternando com calor, estamos sem dúvida a caminho de uma tropicalização do clima. Que
antecede,ou precede, de perto, um estádio de desertificação.
Precede, digo bem, que é um dos palavrões utilizados no vademecum da condução automóvel para
descrever o seguinte sinal de proibição: Vamos ver se sai: círculo branco, com coroa circular
vermelha, a traseira de um veículo automóvel ligeiro – à frente – a dianteira de um outro da mesma
categoria – atrás- e a seguinte inscrição a separá-los: 70 m. Tudo isto a preto.
Intuitivamente o meu leitor sabe ler esta sinal!: proibição de dois veículos circularem a distância
inferior a 70 metros. Não será? E destina-se, de maneira óbvia, ao condutor de trás, que é a ele que
é mais fácil preservar a prescrição sinalética. Concorda?
– Legenda/explicação do sinal- aceite e seguida, estou em crer, por todo o vasto império da língua
portuguesa: sinal c 10 – proibição de transitar a menos de 70 metros do veículo precedente.
– Não sendo propriamente um especialista nestas curvas/contra-curvas da ciência de escrever,
quase apostava que a legenda do sinal descarrega a responsabilidade de manter a distância dos
tais 70 metros no condutor do veículo da frente: ...a menos de 70 metros do veículo precedente..
– Ou não será?
– Três peões em linha no passeio. Para o do meio, o que vem atrás precede-o; o que vai à frentesucede-
o!...Ou não será?
– Para o meu instrutor – naturalmente para todos os instrutores deste país - nem vale a pena perder
tempo a discutir estas minudências semânticas. O Código é igual à Bíblia: não é passível de
discussão. Ou é você que quer agora corrigir o Código da Estrada ?

– Sei é que esta coisa é mesmo uma violação da complicada cadeia neuronal- BRR.......Aceitando
ou não que o veículo precedente é o que vem atrás e não o que vai à frente!....
Ah, já me esquecia do segredo. Da confidência ciciada. Promete não abrir o bico?
: Fui eu, António Saias.... que mandei fazer (paguei!) o tão secreto novo estudo de localização do
Aeroporto de Liboa. Sim, o de Alcochete.
Mas veja lá – pela sua riqúissima saúde....
sobrevivente – António Saias

quarta-feira, 13 de junho de 2007

LOBBIES HOMENS

É assim: aqui há tempos tive oportunidade de ouvir uma entrevista com um “lobista”profissional.
Digo-Vos só que não é vida fácil, não! A pessoa tem que ser encartada, como qualquer profissional
da actividade privada: médico; advogado; especulador imobilário; parteira; odontologista; prostituta
de estrada – arrear pelo último figurino, fazer ginásio, frequentar diariamente a
manicura,desodorizar todos os estuários do corpo, cortar – pelo menos meia-dúzia de línguas:
europeias, eslavas, árabes, mas também as dos impérios emergentes ( sobretudo o chinês, o tal de
mandarim ou coisa semelhante), frequentar os melhores Restaurantes das grandes capitais, estar
familiarizado com o habitat dos luxuosos transatlânticos, ter plafond bancário para alugar a qualquer
hora um jacto de luxo da Virgin-Air, tratar por tu os grandes traficantes da Colômbia – disfarçados
de produtores de meloa Cantaloupe. O “lobista” não é um borra-botas armado em espertalhaço, um
troca-tintas que debutou nas Praias do Estoril, arranhando o francês e o inglês com uma turista
duvidosa, uma qualquer funcionária de Agência de Viagens premiada pelas vendas que logrou fazer
para as Caraíbas ou para o Kurdistão iraquiano. Nada disso!
O “lobista”, mesmo em Portugal, que é uma nação do pequeno tráfico, do comércio incipiente, da
indústria do prego e do balde de esfregona, da renda de bilros e da passamanaria, do atacador e do
agrafe, do pau-de-giz e da colher de pau, pois mesmo em Portugal, dizia, ser “lobista” não está ao
alcance de qualquer um.
Veja-se o que se passa agora com a euforia dos negócios aeroportuais: OTA ? Alcochete jamais
jamais. Mas já de novo OTA jamais jamais, ALCOCHETE peut-être peut-être. Inovador nestes
negócios é a info-exclusão do yes yes...Ao menos isso!
Os noticiários transbordam de gente a bater-se pela enorme mousse de Euros. Ota? Alcochete?
Também eu, olha não? Se tivesse lá a porcaria da courela que tenho aqui à beira do Divor, que só
me dá balanco e rabo-de-raposa para me dar trabalho à roçadora e dores nas costas de passar o ano a
capinar. E melgas, rãs, cágados, melros e pardais do telhado que me vão crestando as poucas
hortaliças que conseguem vingar neste clima desértico de picos climatéricos com que é difícil
acertar – até para dormir.
A quantidade de gente, senhores, em volta destas duas vulgaríssimas, rurais, anónimas freguesias!
Entalaram o governo, conseguiram enlear pessoas que julgo honestas – como o próprio Presidente
da Republica – protelaram o definitivo jamais jamais para mais seis meses, pelo menos.
Olhem, se fosse eu, sabem como resolvia o problema? Nem Ota nem Alcochete. Como aquela gente
toda não aspira a mais do que encher os bolsos de euros, chamava-os a todos, um por um, e
distribuía uns mil milhões dos não sei quantos que hão-de vir de Bruxelas qualquer dia, e avançava
já com um exército de máquinas em direcção a Vila-Franca. Sim senhores, Vila-Franca-de-Xira,
que, mais légua menos légua, fica por ali a meio-caminho, e arrancava, agora a seguir ao Santo
António, a terraplanar as lisas várzeas da Lezíria. Em meia-dúzia de meses tinha acabado com
aquele infindável viveiro de enguias e mosquitos, criação de gado bravo e cavalo puro
lusitano,estava-me nas tintas paras rotas das aves migratórias e minudências semelhantes ( ao que
parece até consensuais entre os próprios ambientalistas!) e estava pronto a receber o tal Airbus com
capacidade para transportar os indemnizados todos da gigantesca operação.
Mudava era o nome a Vila-Franca – para agradar a gregos e troianos- : ALCOCHOTA.
Está o meu leitor disposto a constituir Lobby por esta terceira alternativa?
Se SIM, assine aqui. Eu sou já o primeiro:
António Saias

domingo, 10 de junho de 2007

SADOCRACIA

A saga da carta-de-condução começa a tirar-me o sono.Esta noite, ainda não era 5 horas, acordava
em sobressalto por causa desta aberração. Ou aceito pacificamente que as leis têm carácter genérico
(para aplicar a toda a gente) e têm que ser do conhecimento do universo das pessoas abrangidas
(ninguém pode alegar ignorá-las) – ou não demora estou a pedir ao médico- de-família que trate de
me arranjar consulta para o psiquiatra.
Esqueci-me de revalidar a carta aos 65 anos. Como já me tinha esquecido ao perfazer 60,
eventualmente também ao cumprir 50. Sei que numa dessas (in)oportunidades fui contemplado com
uma – deixem-me chamar-lhe- Coima no valor, na altura, de 25 contos.
O estado sente-se no direito de não avisar ninguém. Quem quiser ser avisado, trate de fazer-se sócio
do Automóvel Club, ou similar. Isto a despeito do prescrito no Código da Estrada ( versão 2006), da
autoria de Alves Costa, pág. 192:
A entidade competente para emissão de títulos de condução deve organizar, nos termos fixados em
regulamento, um registo nacional de condutores, donde constem todos os títulos emitidos, bem
como a identidade e o domicílio dos respectivos titulares. Faltaria acrescentar: que serão avisados,
em tempo útil, da perda de validade do respectivo título.
O meu título perdeu validade há 3 anos e alguns meses. Podiam até ter decorrido 15 ou 20 anos.
Quem esquece por um dia –é natural que tenha esquecido para sempre.
Se tenho tido a sorte – e não sei se tive – de ser interceptado pelos agentes reguladores de trânsito há
um ano e alguns meses, pagaria a multa respectiva e no dia seguinte trataria de revalidar o referido
título, na presença dos seguintes documentos:
– um par de fotografias (tipo passe) a cores e de fundo liso
– atestado médico
– fotocópia do bilhete de identidade e exibição do original
– fotocópia da carta de condução, e exibição do original.
Não seria sujeito a qualquer prova de condução, ninguém me exigiria que soubesse de cor que a
largura máxima de qualquer veículo é 2. 55m ou o comprimento, tb máximo, é de 18.75m.
Posso – atestada a minha capacidade física, mental, psicológica – renovar a minha carta de
condução sem limite de idade. Desde que actualize o documento dentro dos prazos estabelecidos.
A penalização escolhida para os prevaricadores foi tão simples quanto isto: obrigá-los a novo exame
de condução! Porquê? Pergunto. Por que razão lógica, funcional, que escapa ao meu desgastado
entendimento?
Não se lembraram ainda de começar a arrancar uma unhinha dos pés por cada mês além do prazo
legalmente estabelecido!
SADOCRACIA da mais pura, parece-me

sábado, 9 de junho de 2007

INSTRUÇÕES PRIMÁRIAS

Antigamente a comunicação fazia-se por cartas:
namorava-se; negociava-se; declaravam-se guerras ou propunham-se armistícios; anunciava-se um
nascimento ou a própria morte – por carta.
Não raro, quando o destinatário tomava conta do acontecimento já o escalracho invadia a campa do
defunto ou a criança anunciada engatinhava pela casa toda. O inimigo que se convidava à Guerra
teria esgotado as reservas de aveia para as cavalgaduras; a namorada – ante a longa demora do
Correio – terá sido, com sucesso, cortejada, e conquistada, pela simpática figura do carteiro.
Àparte estas situações extremadas, a espera de uma carta nunca deixava de ser uma prolongada
comichão, uma intratável brotoeja, uma sarna incómoda que não nos abandonava enquanto o
homem de farda de cotim cinzento e corneta de cobre reluzente não parava ao pé de nós, fazia o
gesto interminável de levar a mão ao saco de cabedal, onde cabia o mundo, e sacava de lá um
valioso rectangulozinho azul ornamentado por um selo que era um pássaro.
O selo tinha sido colado – sabíamo-lo – com saliva sagrada da pessoa amada.
Uma carta confortava-nos por um mês. Lia-se, relia-se, trelia-se – guardava-se no bolso da camisa
mais chegado ao coração.
Hoje não – temos os computadores, a Net, a chamada Banda Larga, a comunicação directa pelo
espaço, pelo éter, pelo nada, os telemóveis e os insípidos SMS – insípidos, incolores e inodoros.
E a certeza fria, iniludível, de que ninguém tem nada de importante a transmitir-nos.
“desta que te ama”, escrito numa folha perfumada de papel azul, não tem nada a ver com o que
possa chegar-nos, dada a volta ao mundo, pela mão metálica, gelada de qualquer tecnologia.
Beijos!

INSTRUÇÕES PRIMÁRIAS

1 – O SEGREDO é a alma do negócio
2- A ALMA é o negócio do segredo
3- o NEGÓCIO é o segredo da alma
4 - O NEGÓCIO é a alma do segredo
...........................................................
Por aí fora, com as formas mais diversas que se lhe queira atribuir. Porque todas as frases são
conjuntos de palavras – com significados diferentes, conforme o espaço em que se encontram.
Dizer: santos de casa não fazem milagre pode ler-se como a perda de prestígio das pessoas no seu
próprio meio.Comentadores políticos, por exemplo: Marecelo Rebelo de Sousa, na televisão, o
homem sabe tudo. De tudo. Querem apostar que os miudos em casa: filhos, netos, são capazes de o
embasbacar a toda a hora?
Bem paradigmático do materialismo diabólico em que nos fazem existir – sem princípios, sem
valores ( Cavaco Silva há uns anos atrás, quando primeiro ministro, defensor acérrimo do chamado
neo-liberalismo, proclamava isso mesmo : sucesso pessoal a todo o custo! Agora, se calhar até
mudou!) este vale-tudo em que rastejamos como vermes em busca de fortuna – melhor seria que
dissessemos: santos de milagre não fazem casa . Sendo que “fazer casa”já por si tem duas leituras:
construir habitação ou, em linguagem metafórica, granjear riqueza.
Os pastéis de Belém ou de Tentúgal, as “Cavacas das Caldas da Rainha”ou os “Ovos moles de
Aveiro”, ou a “Chanfana de Coimbra”, ou a “Caldeirada de enguias do Porto-alto”, ou o espumante
que se faz na Mealhada, de mistura com o seu Leitão assado – não há nada que não reclame o seu
indesvendável segredo.
Com o Ensino, a mesma coisa. Só que, aqui, mais grave: um professor é pago para ensinar aquilo
que sabe. Não para entrar em mistificações, em jogos que não pretendem outra coisa que não seja
preservar a sua aura de ser inacessível.
Não há nada importante que não se diga por palavras (poucas) simples: e=mc2
Quando vereador da Câmara de Évora, dei comigo, no intervalo de uma sessão chatíssima, a
compulsar um livrinho da vasta biblioteca de uma Associação de Reformados. Chamava-se o
vetusto calhamaço: Directorio Fundamental da Instrução Primária. Da autoria de José Joaquim
Bordalo, com a data de edição de 1842.
Era o livro de Leitura oficial – o que deixa pressupor que todo o cidadão que tivesse a leviandade( e
o dinheiro) para aprender a ler teria que passar por esta provação sádica no mínimo.
Toda a gente sabe o que é uma linha recta. E como defini-la:
a mais curta distãncia entre dois pontos.
Pois bem, o nosso douto mestre-Escola da altura propunha-se descrever ( e se calhar ensinar a
desenhar! )a linha recta nestes termos:
linha recta , se faz com a penna conservando o assento dos bicos num giro pouco dilatado, e tem
por distância, ou intervalo, metade da sua oblíqua, de forma que o espaço de três linhas achado
em largura n´uma das extremidades, seja igual à recta altura de cada linha, tomada pela
obliquidade, a cujo declive servirá de balisa methódica, uma perpendicular elevada do extremo
inferior da recta no vão destinado, para do superior extremo desta, pender sobre a direita, essa
extremidade superior da mesma recta oblíqua, tanto, como metade d´altura da dita
perpendicular, que se reputa 35 graus de obliquidade, tendo de grosso a duodécima parte da sua
altura.
Sem tirar nem pôr! É obra, anh!
E hoje? As coisas mudaram assim tanto? Em tudo?
Não persistirá a tal ideia do "Segredo"?
Bom Abraço

sexta-feira, 8 de junho de 2007

INSTRUÇÕES PRIMÁRIAS

1-ainda não recorri à velha agitadora- de- ar comprada aos marroquinos – de origem chinesa ou
taillandesa, quem sabe vietnamita. É que o Vietname, de que se fala tão pouco, ameaça entrar em
concorrência com os seus vizinhos asiáticos do mundo dito capitalista.
Nem sei bem qual a situação polítca actual deste país! Lembro-me da invasão americana, contra o
Norte - comunista: mais de 3 milhões de mortos asiáticos contra perto de 100 000 soldados
norteamericanos, o ter que abandonar o pântano produtor de arroz – mesmo sem ter tempo de
enrolar a trouxa - com o amargo de boca de ver que o minúsculo Ho Chi Minn tinha mesmo
sacudido a sarna belicosa que não dava sossego ao seu rico país- natal.
Ao que parece tudo está pacificado, o país – unificado- continua a produzir arroz e também já
ventoinhas e computadores, que venderá naturalmente em Boston ou em Nova Iorque. Mesmo que
de proveniência comunista.
2 – G-8 reunido na Alemanha – para analisar e discutir as maleitas que afectam este nosso terceiro
Calhau rolante em volta de uma lamparina fixa, condenada ela própria a extinguir-se um dia destes.
Fomes? Guerras? Desastres naturais? Alterações climáticas? Biodiversidade ameaçada? ...blá blá
blá, blá blá blá........
Panaceia para resolver estes problemas todos – BBB (Bush, Barroso, ainda Blair) acreditam nisso- é
levar a democracia a todo o Mundo. Mas uma democracia própria, muito especial, criada a partir
dum soft(Where?) criado por eles para esse fim específico: uma espécie de Disnylândia em que os
brinquedos fossem substituidos por países, e as raparigas que acompanham os miúdos - por obra e
graça de um suave toque de varinha mágica – transformadas em líderes políticos dóceis e
aquiescentes.
No fraco entender deste modesto igrejinhense desautomobilizado não seria solução mas não
deixaria de ser um contributo válido – não tanto tentar instaurar democracias à semelhança de quem
planta beringelas, contibuir, lutando, para o fim das plutocracias instaladas, a que este isolado autor
chamou um dia de MONEYcracias. Que não são só 8, como é fácil concluir.
3- Voltar a Madelein – quando todos os subterfúgios da publicidade para a mediatizar parecem
legítimos: Os Correios em inglaterra divulgam a sua imagem nos envelopes – creio que junto aos
selos.
Qualquer cadeia (digo bem!) de Grandes superfícies, neste país de descobridores, qualquer Loja das
Farturas, Hiper do Rossio, ou semelhante, que se lembre, a pretexto de uma pseudo-filantropia, de
reproduzir a imagem da pobre mártir da miúda nos saquinhos de compras das suas Lojas todas –
essa estará fazendo uma campanha de vendas fabulosa. Muito mais profícua do que bater-se pela
baixa de preços do robalo ou da banana da Madeira!
Estarei a ser cruel?
Fazendo reverter, como se adivinha, uma generosa fatia desses lucros para o fundo criado com o fim
de dar continuidade às buscas da criança.
Patente garantindo exclusividade para todo o mundo – aqui deixo desafio aos empreendedores deste
deserto voluntário.
4- E vou ficar-me por aqui, que ainda tenho que dar uma olhadela ao "Código da Estrada". Estão a
ver!
Um bom abraço – não muito caloroso por via das mudanças que há no clima

quarta-feira, 6 de junho de 2007

QUADRAS PRA PULARES

ROSÁRIA MANDOU-ME EMBORA
por ser puritano em excesso
Rosalina diz-me agora
que sou no mínimo perverso

Se os homens e as mulheres
se engatassem como os cães
surgiam menos “affaires”
havia menos cabrões

Usa a farsa por sistema
-fórmula mágica, lúdica-
De tão santa é obscena
Quanto mais puta mais pudica

Isolado como um cão
sózinho que nem cachorro
de tanta “isolação”
quanto mais vivo – mais morro

Vai haver governo novo
tramaram a oposição
Quem mais se trama é o povo
haja ou não haja eleição

Por baixo daquele véu
há um inferno que arde:
um olho virado ao Céu
outro à braguilha do padre

Tanto mal que se tem feito
Com vista a que o Bem se instale!
Não daria mais proveito
Tentar melhorar o Mal?

&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&

O homem tinha a tensão normal:
treze e qualquer coisa
sete e tal

O colestrol
confortavelmente abaixo dos duzentos
a velocidade
de sedimentação do sangue
dentro dos parâmetros
próprios da idade

O estômago
funcionava em perfeição
– excepto alguma azia esporádica
– como acontecem as trovoadas
– no Verão

Fazia com regularidade
um exame geral – o seu Ketchup
como ironicamente contava aos seus amigos
e assim ganhava ânimo
para a sua cervejinha vesperal

Deixara de fumar aos vinte e quatro anos
– meses depois de
– regressar do Ultramar

Como já se viu
não abusava do álcool
era velho demais para pensar em drogas
ginasticava as pernas
em passeios radiais
pelo Centro histórico da cidade

Pouco interessará
saber-se mais do homem:
só o tempo e o modo
com que o seu poema
passou para o papel

segunda-feira, 4 de junho de 2007

..... E AS CALÇAS

Consegui os pavões fautosos que invadem os corredores sombrios da U E Verney, e as placas de
identificação das árvores da Mata, bato-me ingloriamente por um casal de esquilos que encha os
olhos das crianças que já não vêem estrelas.
Os meninos de hoje não conhecem mais a Via Láctea, nem as Ursas, nem a Cassiopeia em W, nem
as Plêiades, o sete-estrelo, as 3 Marias, sobretudo, e escandalosamente, Andrómeda. Podiam, ao
menos, conhecer as galinhas e os esquilos.
Junho de 2007 – Tromsoe, Noruega, Relatório sobre alterações climáticas: os gelos do Ártico
recuaram de 6 a 7 por cento no Inverno e de 10 a 12 por cento no Verão nos últimos 30 anos...
A neve e o gelo reflectem 70 a 80 por cento da energia solar, enquanto a água a absorve.” e a cor
escura da Terra, acrecentamos nós, a armazena como esponja sequiosa”.
Os meninos de hoje não conhecem as estrelas nem os esquilos, nem as árvores da Mata, mas sabem
discutir judiciosamente as derradeiras inovações da Play-station Microsoft. E distinguir, à distãncia,
nas prateleiras do seu supermercado, o iogurte ou o pacote de batas fritas do seu imaginário.
Cerca de 6.500 milhões de pessoas neste planeta optaram por um modo de vida tida como certa.
Esta realidade está em vias de mudar mais rapidamente que o previsto -acrescenta o relatório, sem
especificar o valor dessa antecipação.
Os noticiários televisivos deste mesmo dia de relatório falam ainda do iníco de julgamento do
nosso (também já temos um) serial killer, das intermináveis e angustiantes diligências para localizar
a inglesinha Madelein, dão conta de uma acesa disputa entre o Benfica e o Sporting pela posse de
dois promissores futebolistas: o Bruno e o Miguel.Que, notem bem, já têm 8 ANOS!
O Benfica dava não sei quanto, mas o Sporting veio por trás e apresentou uma oferta irrecusável.
A subida do nível dos Oceanos, ligada à fusão dos glaciares terrestres, engoliria regiões costeiras
e Ilhas inteiras, por exemplo, no Bangladesh e na Indonésia. À semelhança do que ameaçou fazer o
último tsunami. Lembra-se ainda do seu nome de batismo? Já esqueceu, estou seguro, se é que
alguma vez chegou a conhecê-lo.
Anderson e Nani já foram transferidos para o clube de Ronaldo. De Ronaldo, e Queiroz, e de Sir
Alec Ferguson, se bem calhar o da célebre marca de Tractores. Custo da transação acima dos 50
milhões de euros.
Mas uma só FOTOGRAFIA de Edward Steichen – um pôr-de-Sol numa lagoa rodeada de choupos e
salgueiros – rendeu em leilão 2 milhões e 900 mil euros, tanto como qualquer bom jogador dos três
primeiros da primeira divisão.
Uma pintura de Mark Rothko, vendida a 21 do mês passado, rendeu tanto como a soma exorbitante
desembolsada pelo Manchester em troca dos já citados Anderson e Nani:
53 milhões e 900 mil EUROS.
Segundo os investigadores, cerca de 40% da população mundial ( lembramos que são 6.500
milhões aproximadamente) poderá ser afectada pelo recuo das superfícies cobertas de neve e dos
glaciares da Ásia...
Perguntará o meu leitor: e o que é que tem o cu a ver co´as calças? Anderson e Nani com a fusão os
glaciares da Ásia, Rothko ou Steichen com a meaça de extinção do Urso Branco, ou com o já bem
evidente extermínio dos inofensivos pirilampos?
Olhe, eu cá também não sei! Mas tudo me leva a crer que negociar putos de 8 anos – como futuros
jogadores de futebol, ou pagar por uma fotografia muito próximo dos 3 milhões de Dólares – não
indicia coisa boa.
E o meu leitor – o que é que acha?
Ou acha que não tem que achar coisa nenhuma?
Abraço magrebino
antonio saias

Sem título

Sei que me dás

A mão

Como um irmão

Com uma única intenção

E eu sei

Qual é:

Tirares-me

O pé

Sem título

Sento-me no Arcada

À espera que tu venhas

E tu não podes vir

Porque nunca exististe

Nem existes

Escrevo, leio

Releio,

Reescrevo

Confiante no milagre

Das palavras

E não é que tu chegas

Feita um saco

De sílabas

E olhas para mim

E ris-te !

POEMA PARA ILUSTRAR EM CASA

Olha, Daisy

(perdoa, tentei tudo:

Rita, Eva, Amélia, Margarida

Lucy de Lucília – nada joga certo como Daisy )

Está um calor aqui no Alentejo

Neste magrebino Junho

Que me sinto grelhar

Por um Sol inclemente

Sinto-me num forno de lenha em plena combustão

Num microondas à máxima potência

Num ferro-de-engomar com o botão do termóstato

Rodado todo à minha mão direita

Já fechei janelas e postigos

Que vertem directamente para a Rua

Já corri cortinas

Baixei estores

Já vedei frinchas das portas

Com os clássicos chouriços virtuais – de serradura

E olha, Daisy,

Nem assim me liberto

Deste insustentável

Pinatubo

O calor perturba, Daisy,

Com pouca coisa pode levar-nos a uma pontinha de loucura

Sei que não adianta nada o que fui fazer agora:

Fechar à chave

As portas todas

Que atiram para a Rua

domingo, 3 de junho de 2007

OIÇAM LÁ !....

1 -Isto até me parece que é assim- um pouco na linha de Aristótoles, que afirmava de forma lapidar
que havia indivíduos que nasciam com a vocação de serem escravos e outros destinados a
senhores. Há na realidade seres humanos dóceis, pacíficos, conciliadores – os mansos da Bíblia -
contentores, se não mesmo ecopontos, de uma vasta camada de espíritos guerreiros, agressivos,
conquistadores obsessivos – que contam por vitórias os mais pequenos actos quotidianos.
Não sabem, não podem perder. E se adrega sairem-se mal de uma dada situação, pois não
descansam enquanto não conseguem ressarcir-se – de preferência com vantagens a dobrar.
A única fraqueza desta gente – que mesmo assim não quer admitir – é que também morre. Com
mais ou menos grana, mais ou menos casas, com ou sem terreno já comprado na Lua – estes heróis
também se apagam.
Oiçam lá!...
2 – Os meus exercícios diários de me deslocar à boleia para Arraiolos – para refazer exame de
condução – prosseguem a bom ritmo. Já lá vai uma semana. Quantas mais me esperam?
Considerava esta ingénua criatura estar a ser vítima de uma autêntica aberração administrativa:
68 anos – reformado ( e mal-pago!), idoso, a 7-8 anos, pelos dados demográficos actuais, de dizer
adeus à Terra da Alegria – com carta de condução há cerca de 50, limpinha como a alma de colegial
que ajoelha para a primeira comunhão – considerava, dizia, que, ao abrigo do chapéu-de-sol de
protecção ao idoso, devia ter sido avisado, em tempo útil, de que o dito documento estava em vias
de atingir a caducidade.
Pouco mais de 500 000 habitantes para o Alentejo todo. Arraiolos, o meu concelho actual, com
pouco mais de 7 000 – quantos cidadãos aqui em idade de renovar a carta aos 65 anos? Seria assim
tão complicado – na época informática, bases-de-dados e outras modernices muito práticas e
facilitadoras – fazer chegar a meia-dúzia de "idosos" a informação que lhe permitisse evitar este
autêntico suplício? Porque é mesmo disso que se trata!: 30 aulas de código – seguidas de 30 aulas
de condução! Não estaremos perante um claro exemplo de SADOCRACIA? ( para o meu leitor
menos letrado: - governo cujos princípios básicos assentam no Sadismo).
Não sei quantos sexagenários encartados sobrevivem neste "deserto" humano. Não encontro dados –
locais, regionais ou nacionais – que possam informar-me com exactidão. Falha minha, talvez! E
quando procuro informações ( por e-mail, que me parece o mais adequado) informa-me uma
simpática funcionária da DGV mais próxima que esse instrumento de comunicação ainda não
chegou aos seus Serviços. OIÇAM lá!...
3 – Desertificação...desertificação...desertificação.....É o litoral que desertifica o interior! - dizem.
E qual o comportamento do interior perante o ainda mais interior?
Évora seria capaz de abdicar da sua Central de Correios em benefício, por exemplo, de Estremoz?
Ou de transferir as suas Direcções Regionais de Saúde, Educação, Viação e Trânsito para Vendas-
Novas, Reguengos, Arraiolos???
A sua Direcção Regional de Economia para Barrancos ou Amareleja?
Directores, sub-directores, sub-sub-directores, assessores,funcionários (mulheres, filhos,
empregadas domésticas) – quem aceitaria isso? Apanhá-los em Évora já não será tarefa fácil:
sem o Corte Inglês, a Fnac, o Chiado, o café matinal na S ui(ss)a ou na Brasileira, o tornedó em
sangue no Cortador ou em qualquer requintado Restaurante de Cascais...
OIÇAM lá!!!
Mas não duvidem, esta coisa, qualquer dia, é mesmo Portalegre, Évora, Beja – e pouco mais. E
passaremo então – como premonitoriamente ameaçava um insígne governante – à fase do onagro
e do camelo.
Bom início de época balnear. E não se esqueça o meu leitor: se vir, a caminho da Praia, um tipo de
cabelos brancos, saco de cabedal dependurado do ombro esquerdo, toalha de praia e calção-debanho
sob o outro braço, eventualmente um livro, não se esqueça de perder alguns segundos para
lhe dar boleia. É que esta coisa dos transportes públicos também não é assim tão abundante!...
Abraço, a serio!!!
antonio saias

sexta-feira, 1 de junho de 2007

Na morte de Mário Cesariny

Mário,

Fácil não foi

Teres sido

César

IN

Agora, que emigraste,

Sem ninguém que chateie,

Sem nada que te estorve

Mais fácil

Te vai ser,

Mário,

César

OFF