sábado, 9 de junho de 2007

INSTRUÇÕES PRIMÁRIAS

1 – O SEGREDO é a alma do negócio
2- A ALMA é o negócio do segredo
3- o NEGÓCIO é o segredo da alma
4 - O NEGÓCIO é a alma do segredo
...........................................................
Por aí fora, com as formas mais diversas que se lhe queira atribuir. Porque todas as frases são
conjuntos de palavras – com significados diferentes, conforme o espaço em que se encontram.
Dizer: santos de casa não fazem milagre pode ler-se como a perda de prestígio das pessoas no seu
próprio meio.Comentadores políticos, por exemplo: Marecelo Rebelo de Sousa, na televisão, o
homem sabe tudo. De tudo. Querem apostar que os miudos em casa: filhos, netos, são capazes de o
embasbacar a toda a hora?
Bem paradigmático do materialismo diabólico em que nos fazem existir – sem princípios, sem
valores ( Cavaco Silva há uns anos atrás, quando primeiro ministro, defensor acérrimo do chamado
neo-liberalismo, proclamava isso mesmo : sucesso pessoal a todo o custo! Agora, se calhar até
mudou!) este vale-tudo em que rastejamos como vermes em busca de fortuna – melhor seria que
dissessemos: santos de milagre não fazem casa . Sendo que “fazer casa”já por si tem duas leituras:
construir habitação ou, em linguagem metafórica, granjear riqueza.
Os pastéis de Belém ou de Tentúgal, as “Cavacas das Caldas da Rainha”ou os “Ovos moles de
Aveiro”, ou a “Chanfana de Coimbra”, ou a “Caldeirada de enguias do Porto-alto”, ou o espumante
que se faz na Mealhada, de mistura com o seu Leitão assado – não há nada que não reclame o seu
indesvendável segredo.
Com o Ensino, a mesma coisa. Só que, aqui, mais grave: um professor é pago para ensinar aquilo
que sabe. Não para entrar em mistificações, em jogos que não pretendem outra coisa que não seja
preservar a sua aura de ser inacessível.
Não há nada importante que não se diga por palavras (poucas) simples: e=mc2
Quando vereador da Câmara de Évora, dei comigo, no intervalo de uma sessão chatíssima, a
compulsar um livrinho da vasta biblioteca de uma Associação de Reformados. Chamava-se o
vetusto calhamaço: Directorio Fundamental da Instrução Primária. Da autoria de José Joaquim
Bordalo, com a data de edição de 1842.
Era o livro de Leitura oficial – o que deixa pressupor que todo o cidadão que tivesse a leviandade( e
o dinheiro) para aprender a ler teria que passar por esta provação sádica no mínimo.
Toda a gente sabe o que é uma linha recta. E como defini-la:
a mais curta distãncia entre dois pontos.
Pois bem, o nosso douto mestre-Escola da altura propunha-se descrever ( e se calhar ensinar a
desenhar! )a linha recta nestes termos:
linha recta , se faz com a penna conservando o assento dos bicos num giro pouco dilatado, e tem
por distância, ou intervalo, metade da sua oblíqua, de forma que o espaço de três linhas achado
em largura n´uma das extremidades, seja igual à recta altura de cada linha, tomada pela
obliquidade, a cujo declive servirá de balisa methódica, uma perpendicular elevada do extremo
inferior da recta no vão destinado, para do superior extremo desta, pender sobre a direita, essa
extremidade superior da mesma recta oblíqua, tanto, como metade d´altura da dita
perpendicular, que se reputa 35 graus de obliquidade, tendo de grosso a duodécima parte da sua
altura.
Sem tirar nem pôr! É obra, anh!
E hoje? As coisas mudaram assim tanto? Em tudo?
Não persistirá a tal ideia do "Segredo"?
Bom Abraço

Um comentário:

JR disse...

O negócio sem alma,já não é segredo para ninguém.
O negócio é roubar,em segredo, a alma de quem a tem.
Um abraço