quinta-feira, 21 de junho de 2007

DECÁLOGO DO AUTOMOBILISTA

Sua Santidade o Papa e o Vaticano desconhecem em absoluto, não duvido, o mau transe por que
passa este anónimo automobilista Igrejinhense – privado do seu título de condução pelo secular
pecadilho de se ter esquecido de proceder à renovação do referido documento. Tanto assim que o
não refere entre os recém-publicados Dez Mandamentos do Automobilista – divulgados hoje
mesmo, vésperas de Verão de 2007, por alto dignitário da hierarquia do poderoso aparelho espiritual
herdado de S.Pedro.
Colado ao já conhecido decálogo recolhido directamente de Deus pela venerável figura de Moisés –
quando os meios de transporte não iam além do burro e da carroça – entende o Vaticano, e em nosso
entender muito a propósito, dar a conhecer Urbi et Orbis, o que entende poder contribuir, de
maneira decisiva, para o estancamento da escandalosa carnificina que acontece na teia mundial de
estradas e caminhos. Mais de um milhão de vidas ceifadas anualmente no asfalto das amplas
autoestradas ou na poeira das exíguas picadas africanas. Tirando a Fome- que compete em número
de vítimas com este flagelo maioritariamente tecnológico- não conhecemos outro, com carácter
permanente, que se aproxime deste número funesto. As Guerras? Sei lá, não tenho números: 3
milhões no Vietnam? 30 milhões entre União Soviética e Alemanha – na última Guerra Mundial?
Tudo bem!
Mas a sangria rodoviária a que se assiste é que não tem precedentes na já longa história da
humanidade. Números redondos – só neste rectangulozinho ajardinado, em processo acelerado de
estepização, desaparecem, na vertigem da velocidade, mais de mil vidas só num ano.
Estabelece o novo decálogo católico alguns preceitos, dirigidos a praticantes e simpatizantes, que o
atropêlo com que foram divulgados pelas nossas televisões – a par do insipiente(meu) domínio do
italiano – não me foi permitido assimilar mais do que três princípios rudimentares do pontífico
documento:
1 – Primeiro Mandamento: Não matarás. Muito bem, digo eu, fotocópia, dos originais – aqui
manifestamente sem intervenção divina. O primeiro com vista a obviar às guerras – ao tempo
limitadas à tática do cerco, à espada, à lança, ao chuço, à funda, à catapulta...
O segundo – pontifício, dado hoje a conhacer – apelando ao estrito cumprimento das mais
elementares regras do Código de Estrada.
2 – Não cobiçar a mulher do próximo, julgo eu, cuja versão de prevenção da sinistralidade
rodoviária aponta, sugere, incita a que não se utilize a viatura automóvel como sede, mesmo que
temporária, incómoda, precária, da velha e condenada prática da luxúria. Para já não falar da muito
grave contra-ordenção que é o pecado de adultério.
3 – Não por ordem, naturalmente, porque ainda falta o "não roubarás", e outros – mais
dirigido,estou em crer, ao larápio da especialidade do que ao próprio condutor – vem um
mandamento verdadeiramente idiossincrático, que cumpri-lo, pelo Código de Estradas nacional
bastaria a reprovação imediata de qualquer examinado:
– qualquer condutor deve persignar-se antes de pôr o motor a funcionar.
Sei é que – para concluir – do que consegui respigar entre duas garfadas de batatas fritas e o
ronronar da Christie por um pedaço de gordura das abas da bifana – nem a mais leve alusão a crime,
contravenção, pecado contra alguém (não muito novo e secular) ex-condutor – por se ter esquecido
de renovar a negregada carta
Desautomobilizado seu
antónio saias

Um comentário:

JR disse...

Isso está mau, ehn?
Já parece aquela estória: - os Dez Mandamentos da Lei de Deus são Cinco - Fé, Esperança e Caridade.

Um abraço