domingo, 3 de junho de 2007

OIÇAM LÁ !....

1 -Isto até me parece que é assim- um pouco na linha de Aristótoles, que afirmava de forma lapidar
que havia indivíduos que nasciam com a vocação de serem escravos e outros destinados a
senhores. Há na realidade seres humanos dóceis, pacíficos, conciliadores – os mansos da Bíblia -
contentores, se não mesmo ecopontos, de uma vasta camada de espíritos guerreiros, agressivos,
conquistadores obsessivos – que contam por vitórias os mais pequenos actos quotidianos.
Não sabem, não podem perder. E se adrega sairem-se mal de uma dada situação, pois não
descansam enquanto não conseguem ressarcir-se – de preferência com vantagens a dobrar.
A única fraqueza desta gente – que mesmo assim não quer admitir – é que também morre. Com
mais ou menos grana, mais ou menos casas, com ou sem terreno já comprado na Lua – estes heróis
também se apagam.
Oiçam lá!...
2 – Os meus exercícios diários de me deslocar à boleia para Arraiolos – para refazer exame de
condução – prosseguem a bom ritmo. Já lá vai uma semana. Quantas mais me esperam?
Considerava esta ingénua criatura estar a ser vítima de uma autêntica aberração administrativa:
68 anos – reformado ( e mal-pago!), idoso, a 7-8 anos, pelos dados demográficos actuais, de dizer
adeus à Terra da Alegria – com carta de condução há cerca de 50, limpinha como a alma de colegial
que ajoelha para a primeira comunhão – considerava, dizia, que, ao abrigo do chapéu-de-sol de
protecção ao idoso, devia ter sido avisado, em tempo útil, de que o dito documento estava em vias
de atingir a caducidade.
Pouco mais de 500 000 habitantes para o Alentejo todo. Arraiolos, o meu concelho actual, com
pouco mais de 7 000 – quantos cidadãos aqui em idade de renovar a carta aos 65 anos? Seria assim
tão complicado – na época informática, bases-de-dados e outras modernices muito práticas e
facilitadoras – fazer chegar a meia-dúzia de "idosos" a informação que lhe permitisse evitar este
autêntico suplício? Porque é mesmo disso que se trata!: 30 aulas de código – seguidas de 30 aulas
de condução! Não estaremos perante um claro exemplo de SADOCRACIA? ( para o meu leitor
menos letrado: - governo cujos princípios básicos assentam no Sadismo).
Não sei quantos sexagenários encartados sobrevivem neste "deserto" humano. Não encontro dados –
locais, regionais ou nacionais – que possam informar-me com exactidão. Falha minha, talvez! E
quando procuro informações ( por e-mail, que me parece o mais adequado) informa-me uma
simpática funcionária da DGV mais próxima que esse instrumento de comunicação ainda não
chegou aos seus Serviços. OIÇAM lá!...
3 – Desertificação...desertificação...desertificação.....É o litoral que desertifica o interior! - dizem.
E qual o comportamento do interior perante o ainda mais interior?
Évora seria capaz de abdicar da sua Central de Correios em benefício, por exemplo, de Estremoz?
Ou de transferir as suas Direcções Regionais de Saúde, Educação, Viação e Trânsito para Vendas-
Novas, Reguengos, Arraiolos???
A sua Direcção Regional de Economia para Barrancos ou Amareleja?
Directores, sub-directores, sub-sub-directores, assessores,funcionários (mulheres, filhos,
empregadas domésticas) – quem aceitaria isso? Apanhá-los em Évora já não será tarefa fácil:
sem o Corte Inglês, a Fnac, o Chiado, o café matinal na S ui(ss)a ou na Brasileira, o tornedó em
sangue no Cortador ou em qualquer requintado Restaurante de Cascais...
OIÇAM lá!!!
Mas não duvidem, esta coisa, qualquer dia, é mesmo Portalegre, Évora, Beja – e pouco mais. E
passaremo então – como premonitoriamente ameaçava um insígne governante – à fase do onagro
e do camelo.
Bom início de época balnear. E não se esqueça o meu leitor: se vir, a caminho da Praia, um tipo de
cabelos brancos, saco de cabedal dependurado do ombro esquerdo, toalha de praia e calção-debanho
sob o outro braço, eventualmente um livro, não se esqueça de perder alguns segundos para
lhe dar boleia. É que esta coisa dos transportes públicos também não é assim tão abundante!...
Abraço, a serio!!!
antonio saias

Um comentário:

JR disse...

Deserto pode ser sinónimo de camelos ou de petróleo. No primeiro caso teremos que os importar, enquanto que no segundo é bom que o exportemos.
O que vale é que temos políticos de vistas largas.
Amigo, contente-se nos tempos mais próximos com uns banhitos na albufeira do Divor.
Aquele abraço