sábado, 7 de julho de 2007

B L O G

Eu também tenho um blog: preto; pequenino; pendurado
E posso, pelo meu blog, dizer aquilo que me dá na pinha.
Está calor, aproximamo-nos dos quarenta – mesmo com flexisegurança a coisa não está pra graças.
Coisas desconexas a gente diz para acertar. Porque dizer coisas direitinhas – isso toda a gente diz:
aprendeu gramática, comprou um dicionário, leu o Gaiola Aberta do Vilhena e meia-dúzia de
estrofes dos Lusíadas, passou com 14 a português no décimo segundo, cursou estudos superiores, e
aí está pronto a botar discurso em qualquer areópago da maior respeitabilidade.
Sobre as alterações climáticas ou a gripe aviaria no extremo oriente (aviária sem acento – da
responsabilidade do corrector de texto, eu cá não quero saber!) , sobre as consequências trágicas das
monções na Ásia ou os efeitos dos avanços da engenharia genética na cor dos ovos das galinhas Red
Rhode Island.
Há títulos que só por si valem uma cabazada de palavras – alinhadas uma-a-uma sabe deus com que
sacrifício. Deus com minúsculas, que não tem nada a ver com religião nem coisa parecida. Como
quando se diz “ao deus dará”. Faria algum sentido escrever deus com letra grande?
Desde que tenho o blog – preto, pequenino, pendurado – escrevo muito mais. E às tantas as pessoas
já se cansam de ler tanta bacorada. Porque nem é preciso transformar-se o blogueiro numa albufeira
de palavras para refrescar a memória do leitor eventual. Desde há dias que ando com esta metida na
cabeça: Escrever uma crónica que não vá além do título. E o título seria: O PIPI DA
METEOROLOGIA. Quem vê a Antena 1 sabe de quem falo: um senhor todo composto, de lacinho
e tudo, que em gestos encenados – talvez ao espelho do seu pesado guarda-fatos - nos diz
diariamente onde é que vai chover e para onde avança o anticiclone dos Açores. Maravilha!
Por falar em chuva: ando com os sentimentos visivelmente enevoados. E esta madrugada – ainda
antes das 6 horas da manhã – palavra de honra, acordei com uma suave mas volumosa sinfonia de
pardais, sim, do telhado, nos choupos mais próximos da casa.
Quem alguma vez tenha cometido a tonteria de viver no mato, como eu fiz em toda a minha vida,
sabe que os pardais se juntam em bandos para dormir nas canas e nas silvas. E produzem, em
conjunto, um ruído cavo quase de onda, que só sossega quando o sol desaparece por completo. Pois
bem, pela primeira vez nas minhas aproximadas 70 translações dei por esta cena – não nas canas ou
nas silvas, não ao pôr-do- sol como estava habituado- em pleno crepúsculo do raiar da aurora.
Os pardais, do telhado, sim, estão em pleno apogeu de procriação. E se eles são brutos em matéria
de fornicação! Macho e fêmea, às vezes até mais, embrulham-se em voos rasantes que terminam
abruptamente numa toiça de ervas ao acaso, e entre beijinhos e bicadas culminam com séries de
dezenas de galadelas ( é assim que se diz quando se fala de voláteis).
Produzem ninhadas mais vastas do que camponeses indianos, não sei ao certo quantas vezes ao anodesde
os alvores da primavera até ao fim do verão.
E desta vez devem ter juntado a filharada toda para me proporcionar este agradável alvoroço. Eu é
que já não consegui adormecer – até ter que me levantar para ir para as lições de condução
Você está de férias, eu já sei, goze-as bem, sem o desatino destes inesquecíveis companheiros.
Vai para si o meu abraço

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