sábado, 28 de julho de 2007

NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO E A FÉ DOS HOMENS

( A propósito das Festas Populares em Honra de Nossa Senhora
da Consolação – na Igrejinha)

Mais um ano (para os pessimistas menos um); mais não sei quantos meninos e meninas nascidos na
Aldeia; mais não sei quantos acompanhados à última morada; mais uns poucos de novos moradores
que procuram a serenidade e a pacatez da Igrejinha; mais um outono- de que poucos já se lembramum
Inverno com mais ou menos chuva e mais ou menos hectares de terra semeados, mais ou menos
gripes e constipações, mais ou menos corridas ao Centro de Saúde e à Farmácia; mais uma
Primavera amena, com flores primeiro lilazes à beira dos caminhos, depois amarelas e roxas
tingindo a paisagem no percurso diário para Évora; mais um ano de campos cada vez mais desertos
de searas, mais entregues aos caprichos da própria Natureza; mais um ano de...
Os dias; as semanas; os meses, os anos; para nós, humanos, finalmente o século. Que alguns, muito
raros, igrejinhenses já tiveram a honra e o proveito de comemorar. No Alentejo há cerca de 60
cidadãos, dos quais apenas 7 homens, que já ultrapassaram essa meta.
Para dizer o quê? Que a esperança de vida da nossa população aumenta, felizmente, a um ritmo
acelerado, de que muitas vezes nem nos apercebemos.
Mas todos nos lembramos do tempo de miséria da maioria das famílias;da falta compulsiva de
higiene porque a água para casa tinha que se ir buscar em cântaros à fonte – o banhito que hoje é
diário não ia além de uma vez por semana, quando não por mês, ou, em situações extremas, de
maneira mais cuidada, só mesmo pelas Festas de Nossa Senhora da Consolação.
Mudam-se os tempos – dizia Camões há 500 anos – mudam-se as vontades. E, sabemos nós agora,
mudam-se de igual modo os hábitos, os costumes, as tradições, os próprios valores – que é o mesmo
que dizer o modo como lidamos entre nós, aquilo em que acreditamos, como encaramos as
instituições: a Família; a Escola; o Poder legalmente instituido; a Igreja; a Fé.....
Porque tudo isso muda com o tempo!
E é fácil admitir que há quatro ou cinco mil anos os nossos tetravós, sepultados na Chainha, no
Sobral ou nas Cabeças não fossem devotos fervorosos de Nossa Senhora da Consolação. Passaram
dois ou três milénios até que viesse ao mundo Jesus Cristo, e mais outros dois até aos dias de hoje.
O que nãosignifica que esses remotos antepassados não tivessem já a sua fé! Testemunha disso são
as pedras alinhadas, a que chamamos Antas, tidas como monumentos funerários, que atravessaram
milénios até nós.
É a fé, talvez mais do que tudo, o que nos distingue do que impropriamente designamos por animais
irracionais. Impropriamente porque todos nós sabemos como os cães ou os gatos também são
capazes de compartilhar as nossas alegrias ou tristezas, de "falar" connosco para nos transmitir
anseios, angústias, em suma os seus estados de alma.
É cada vez mais frequente acreditarmos na capacidade humana para resolver os nossos problemas.
Se até fomos à Lua, será tão difícil acabar com a Fome e as Doenças que devastam grande parte da
humanidade? E será a Fé, só por si, capaz de irradicar definitivamente esses flagelos? Não,
reconhecidamente. Como crença passiva, se não for acompanhada de actos, por vezes de muitos
sacrifícios pessoais, não leva a nada. Como afirmava Tiago: a Fé, se não for acompanhada de
obras, é morta E é essa componente religiosa, essa força interior que os igrejinhenses buscam na sua Santa
Imaculada. Que os traz dos confins da Europa, enfrentando o desafio de milhares de quilómetros de
Estrada e de contingências – para depositarem ali, naquela noite, as suas esperanças e angústias,
invocarem os favores divinos para a incerteza que os aguarda.
Não haverá em França ou na Bélgica, ou no Canadá, réplicas "emigrantes" da Santa da sua
devoção? Seguramente sim!
Mas a Santa verdadeira – VIVA – a senhora da Consolação autêntica – Essa reside aqui na
Igrejinha, numa construção cheia de mística, que, por mais que se renove, não perde nunca a sua
força original.
Boas Festas – é o que Vos deseja este igrejinhense de adopção
António Saias

Um comentário:

José Eliseu Pinto disse...

Viva, companheiro! Folgo em saber que o pousio "descartado" na Igrejinha refinou o teu olhar sobre as coisas em volta... (sendo isso é possível!?).
Quando voltares ao mundo dos automobilizados verás que o dito mudou. Entretanto fico, saudosamente, à espera para discutir contigo se terá sido para melhor... se possível, à volta de um tinto, um naco de pão e meia de conduto: é que talvez seja preciso dar algum avanço à perspectiva optimista.
Um abraço grande, daqui desta aldeia (... em festa, também).